sábado, 20 de dezembro de 2008

Exórdium

Há momentos a sós,
em que o fastio farta!
O Mundo pesa sobre nós,
e o pensamento mata!

A dor rasga a alma,
mas o Amor reconforta,
a Música acalma...
e se abre uma nova porta!

O dia passa devagar,
a brisa voga sobre mim,
o Sol aquece por dentro
e a Felicidade é um sem fim...

Momentos de terna languidez,
em que existo.
E, o que sou e sinto,
Tu não vês!

Viajo, não passeio
e o Mundo é meu,
tudo é lindo e feio,
e, o que sou é Teu!

A Vida é mesmo assim...
Um Arco-íris de sensações,
tudo o que possuo em mim,
são alegrias, tristezas -recordações.

- Mas, o que me faz viver és Tu!

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Kátharsis

A Felicidade somos nós, o Paraíso existe no nosso interior. Temos a possibilidade de mudarmos a nossa vida apenas com gestos simples e com pequenas escolhas.
A maior parte da vezes enveredamos pelo negativismo e damos azo a depressões desnecessárias!
Olhar o Céu, ver a chuva cair, ver as crianças brincar, os pássaros voar...sorrir para a vida. Sentir a essência de viver, de estar e de ser vivo. Isso, é maviosa felicidade!
Tudo nesta vida é fugaz e volátil, tudo o que vivemos hoje é impossivel de reatar amanhã. As novas experiências são de aproveitar e para viver ao máximo; para que um dia ao olharmos para trás, sentirmos a saudade do prazer vivido e não a desilusão por não termos tirado partido da melhor forma.
Por isso, tudo o que fizeres faz bem logo à 1ª, escusas de fazer duas ou mais vezes e põe sempre um pouco de ti em tudo o que fazes!
Vê a vida como uma oportunidade de mostrar o quão grandioso tu és e o quanto de bom podes oferecer aos que te rodeiam; presenteia-os sempre com a tua alegria e boa disposição, tenta ser um dos melhores, senão mesmo o melhor e prepara-te para as responsabilidades que disso possam surgir. Melhora-te a ti próprio, cuida de ti – o teu corpo é um Templo de “Deus”. Não deixes que o templo se transforme num túmulo verdete e corroído ou num terreno baldio. Deita-te sempre com o pensamento de dever cumprido, e deslumbra os outros com a tua genialidade e o facto de seres sempre genuíno em todas as tuas acções. Pensa sempre um pouco antes de falar. Decide sempre por ti. Sê um ponderado nato!

- Acima de tudo, Ama-te e logo a seguir ama os outros e só depois ama os prazeres da vida...


- Sê o Paraíso de alguém!

domingo, 14 de dezembro de 2008

A lição

João estava a aprender da pior maneira o que a vida lhe podia ensinar. Uma lição dolorosa por ser final.
A morte deveria aparecer-nos de vez em quando e pregar-nos partidas e depois ir-se embora e dizer que tão depressa não voltava. Só a proximidade com a morte nos traz respeito pela vida.
A morte é o descanso que João não queria. Se ao menos fizesse um balanço positivo da vida que tinha tido, aceitaria melhor essa fatalidade. Sabia que fora ele que falhara, mas não aceitava de bom grado ser o responsável único, principalmente em situações que não controlava.
Ainda menino fora criado em casa da avó, sem amigos rapazes, o que fez com que perdesse os modos abrutalhados próprios dessas idades. As brincadeiras parvas, as brincadeiras com carrinhos, guerras com soldadinhos de borracha ou plástico, nada disso existiu na sua infância. O que existiu foi uma amiga. Dos 5 aos 7 anos João teve uma amiga inseparável, com a qual brincava, ria, chorava. Tornou-se atento, respeitador, amável. Teve com ela a primeira percepção do que era o sexo oposto, sem saber que estava a ter essa percepção. Teve com ela a primeira erecção sexual sem saber que estava a ter uma erecção sexual. Foi o seu primeiro grande amor sem saber que o era, dos 5 aos 7 anos, na idade das descobertas inocentes descobriu a mulher, descobriu o amor. E esse facto, de que ele não foi responsável directo, marcar-lhe-ia toda a vida. Separou-se dela quando ambos entraram para o ensino primário em escolas separadas. Foi a primeira perda, a primeira desilusão. Já na primária teve amizades maduras de mais para a idade. Teve namoradas que o queriam beijar na boca atrás do pavilhão, mas que ele recusava por ser respeitador. Namoradas e amizades que lhe duraram até à 4ª classe quando se voltou a separar. João só tinha 11 anos e estava a recomeçar uma vida diferente pela terceira vez, ele que se habituara ao conforto e à estabilidade de uma só amizade, de uma rapariga que o destino colocou a viver perto da casa da avó.
Preparatória. Novamente uma amizade com a força da primeira. A primeira paixão que teve com a real percepção de que estava apaixonado. Primeira nega. Chorou todo o dia com uma tristeza e desilusão que aos 11 anos de idade era no mínimo estranha.
Outro ano se passou, nova mudança de escola. Novos amigos. Desta vez amigos para a vida. João estava com 13 anos quando se apaixonou de novo. Enquanto os amigos preferiam jogar à bola e andar à porrada uns com os outros, ele queria estar junto de quem gostava, queria dizer-lhe o que sentia. Queria conversar, passear. E os amigos gritavam-lhe, “deixa-a estar, anda jogar à bola”, e ele não ia. Durou-lhe dois anos esse amor, sem ser correspondido.Quando chegou à idade de começar a frequentar bares e discotecas ía para passar um bom bocado com os amigos. E os mesmos que antes lhe diziam “deixa-a estar, anda jogar à bola”, diziam-lhe agora para se fazer às mulheres que por ali andavam, “tens de curtir a vida”.Mas ele não era assim. Ele foi o rapaz que entre os 5 e os 7 anos teve só uma amiga. E era isso que ele queria, ansiava pelo grande amor, ansiava de novo por uma grande amiga, brincar com ela, chorar com ela, rir com ela, acarinha-la e ser acarinhado. Mas esse grande amor teimava em não aparecer.
Assim passo a passo a vida foi-se desenhando. Até ao dia de hoje. Lá fora chovia e João vinha a pensar no quanto estava apaixonado. Talvez fosse esta a mulher da sua vida. E enquanto este pensamento lhe toldava todos os outros, passou por muitas mulheres que poderiam ser o seu grande amor, uma delas poderia ser a mulher da sua vida. Mas ele não via nenhuma porque só pensava numa. E agora que estava ali sentado em frente ao médico, deu-se conta que desde os 5 anos que tinha tido sempre um amor, uma mulher que o cegava e que não o deixava ver as outras. E que essa cegueira provavelmente o fez perder a vida. Tinha só vinte e três anos e o médico acabara de dizer-lhe que tinha cancro em fase avançada. Naquele momento João fez o balanço de toda a vida e o balanço foi evidentemente negativo. Só perante aquela crise fatal percebeu que o grande amor não é o que se procura, é o que se acha.
“ Se ao menos eu pudesse voltar atrás, encarava a vida de outra forma, lutaria de outra forma, lidaria de outra maneira com as pessoas, com as situações...”
Trimmmm. Era o despertador. Demorou alguns segundos a perceber que estava a ter um pesadelo. Levantou-se então, para a vida.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Crónica do Não Romance

Nunca consegui escrever romances. Não tenho tempo. Mesmo em todas as horas, como as de agora, não tenho tempo. Estou aqui sentado a escrever isto, há pouco estive ali a olhar para o ar sem fazer nada. E dentro deste nada fazer, não me sobra tempo para escrever romances. Falta de ideias não são, porque as tenho. Falta de meios também não. Uma caneta, um caderno ou computador sem necessidade nem de caneta nem de caderno. Talvez falta de coragem. Vidas, criar-lhes ambiente, relações, problemas, e tudo o mais que uma vida pede. Ser Deus não é fácil, talvez seja por isso que não acredito Nele. Criar tudo o que existe e que conheço, mesmo o que não conheço mas sei que existe. Como foi possivel? Com certeza Deus tinha uma grande caderno e uma caneta com tinta que nunca mais acabava, e também um revisor distraído. Criar vidas! O que eu queria era ser pai. Sinto-o agora como nunca senti antes. Ser pai. Chegar a casa e beijar a mulher e os filhos e dizer-lhes que façam os trabalhos de casa e que se precisarem de ajuda me chamem, "estou ali a escrever um romance". Mas, como pode isto acontecer se não consigo escrever um romance! Um livro, uma árvore, um filho. E eu, nem livro, nem árvore, nem filho. Que merda de homem sou? A merda de um homem que escreve poemas e contos e peças de teatro e os manda para a gaveta e nunca mais os vê. Escrevo poemas e não sou poeta. Então o que sou? O homem que chega a casa onde não estão mulher nem filhos e que escreve um poema, se até isso lhe pode ser chamado. Escreve a porra de um poema porque não consegue escrever nada que não tenha fim nesse mesmo dia. Talvez um dia escreva um romance sem fim, sobre um homem que chega a casa e beija a mulher e os filhos e lhes diga que façam os trabalhos de casa e que se precisarem de ajuda o chamem. "Estou ali a escrever um romance". Um homem como eu, com o meu nome e que se vista como eu, de corpo e alma.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Viagens

I

Maquinista de comboio novo
que circula em velhos carris.
Desgastado por paragens sucessivas,
paragens de esperança,
apeadeiros de espectativa.
Estações cheias de nada,
falsas realizações de vida.
Paro o comboio
sabendo que não há nada,
não há que transportar.
Mas paro,
e de cada vez que o faço
é para os meus sonhos saírem,
para apear as minhas ilusões.
Fecho as portas,
logo a seguir ao coração e parto.
E entre uma e outra paragem
iludo-me outra vez.
Torno a parar, a sofrer, a partir.
Parar, sofrer, partir,
parar, sofrer, partir,
pouca-terra, pouca-terra,
muitas ilusões, poucas realizações,
pouca-terra, pouca-terra,
parar, sofrer, partir.

II

Antes as insónias
que os sonhos.

III

Compra-se bilhete
de ida.
Destino, Felicidade.
Sem olhar a custos.
Impera a urgência.
É necessário repor a verdade,
fui enganado
quando me deram este bilhete,
era só de volta.
Volta sem Ida.
Para que quero eu
um bilhete de volta
da Felicidade
sem nunca lá ter ido?
Mesmo oferecido,
para o caralho com ele.
Não quero mais Voltar,
quero Ir.
Compra-se bilhete
de Ida
para a Felicidade.

sábado, 29 de novembro de 2008

Dentro de ti

Queria sentir
o teu corpo quente
encostado ao meu,
a deslizar suavemente
como pétalas em queda
de uma roseira.
Picar-me nos teus espinhos
e sangrar de contentamento.
Ser omnipresente,
estar dentro e fora de ti.
Tocar-te na alma,
ter o teu coração quente
a gemer de esperança
para que esse momento
fosse eterno,
durasse para sempre.
E quando te tivesse
toda minha,
sentir que o meu mundo
se perdia dentro de ti
e que sempre o acharia
contigo.
Que esse mundo fosse só
o toque dos nossos corações,
o encosto das nossas almas
e o partilhar de emoções.
Dir-te-ia, amo-te,
e tu responderias,
eu também te amo.

Luz

Comecei a andar,
já vejo ao fundo
a luz, a saída.
Não sei porque parei,
sabia desta luz
e mesmo assim estagnei.
Talvez esperasse só este dia,
esta hora.
Não sei de razões,
mas comecei a andar.
Talvez por ti,
se estiveres junto a essa luz.
Se esperares tu agora, aí chegarei.

sábado, 22 de novembro de 2008

Coração de Pedra

I

Cansei-me de esperar.
Vou arrumar os sentimentos
num canto do coração.

II

Gostava que o meu coração
fosse uma mala
que eu perdesse
num qualquer aeroporto.
E quem o achasse,
o levasse,
e ao abri-lo diria,
não tem nada de valor.
A seguir deitava-o num rio,
num rio poluído.
No rio transformava-se em pedra.
Seria então só um coração
de pedra no fundo de um rio poluído,
e não isto que para aqui trago
cheio de sonhos, cheio de fantasias,
este coração a transformar-se em pedra
nesta vida poluída.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Quarto

Fechei-me num quarto,
quatro paredes
sem portas nem janelas.
Sentei-me conformado,
vi as horas passarem
no relógio pendurado.
Não me interessava o exterior,
todo ele era passado.
Um passado que não fez futuro.
Tic, Tac, Tic, Tac.
Adormecido para a vida
num corpo dormente
sem alma, falecido.

Quando acordei
vi o sol.
E sem acreditar
no calor que sentia
procurei o relógio.
Mas não havia relógio,
no seu lugar estava uma janela.
Alguém pusera uma janela
na minha vida de quatro paredes.
Espreitei pela janela
e vi lá fora o meu futuro.
Cheguei então à conclusão
que afinal o meu passado
tinha feito futuro.
O meu passado era aquela janela
e o meu futuro estava lá fora.

E agora continuo a espreitar
pela janela e sou feliz.
Com todo o sol a bater-me na cara
sei que um dia esta janela será uma porta
que abrirei, e já do lado de fora direi,
valeu a pena esta espera.

sábado, 8 de novembro de 2008

Videbimus Infra...

Os ponteiros martelam sem cessar,
O eco que ouço é passado a todo o instante,
Penso em ti, num breve olhar,
Estás a meu lado mas, tão distante...

O tempo escorre entre meus dedos,
Quero agarrá-lo, mas já passou.
Enfrento de peito os meus medos,
Penso, medito e, nãos sei quem sou!

Fui alguém que mudou,
Sou mudança completa,
Sou um Homem que já errou.
Mas, já transpus a minha meta!

Lutei sozinho e sobrevivi,
Caminhei na loucura,
Errei na noite escura,
Mas estou aqui, para ti.

Agora vejo entre o nevoeiro cerrado,
Voo alto entre as aves bravias,
Navego no mar mais irado,
Canto mais alto que as cotovias.

Sou o que fui, o que sou e o que irei ser,
Alguém que vive e viveu do dia-a-dia,
Olho o futuro com a promessa de obter,
A Felicidade, a Paz a Bonomia...

08/11/08

MG.

domingo, 2 de novembro de 2008

Sonho II

Gostava que a minha vida
fosse um sonho,
contigo dentro dele.
E que esse sonho
tivesse outro dentro,
e outro...
e outro...
Que tu estivesses comigo
em cada um.
E sempre que eu acordasse
estivesse noutro sonho contigo.
E um dia morreriamos,
a sonhar que tinhamos sido felizes.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Liberdade... Utopia real

A Liberdade total é uma utopia senão, caminharíamos a largos passos para uma Anarquia caótica.
A liberdade está pura e simplesmente implícita nas nossas decisões pessoais, por isso,
Nunca deixem que decidam por vós, se há coisa mais obtusa na personalidade de um indivíduo é ser um acérrimo seguidor dos outros; dizer sim ou não só porque alguém disse e, é mais inteligente do que nós.
A inteligência está bem patente num homem que sabe decidir por si, o que, não quer dizer que faça ouvidos moucos ao resto mundo, tem é que saber gerir uniformemente as informações, estudá-las e, só depois de alguma reflexão, tomar então uma decisão acertada, pelo menos, no seu ponto de vista!
A Liberdade tem ínfimos pontos que podíamos focar mas, é sem dúvida dificílimo referenciar todos os aspectos.
A célebre frase é deveras verdadeira: - “ A liberdade de um indivíduo acaba quando começa a do outro”; o que hoje em dia tem vindo a depreciar-se abruptamente, o respeito por outrem tem vindo a diminuir bastante. Vivemos numa sociedade onde todos querem ser conhecidos não pelos bons feitos mas, porque são maus e os outros tem receio deles (pensam que isso é respeito).
O verdadeiro homem não tem medo, luta por ser livre à sua maneira, não prejudicando os outros mas, ajudando-os e mostrando o lado bom da liberdade para vencer no Mundo; também para que este aposte num desenvolvimento sustentável, para que o usufruto das potencialidades deste planeta sejam totais e não parciais, visando substancialmente os princípios da reciclagem orgânica e energética.
“A Liberdade é o que podemos fazer por ela.” Remontando à Revolução francesa (1789) em que os princípios fundamentais eram a Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Os Homens eram de fibra, defendiam os seus ideais a todo o custo mesmo que para isso tivessem de dar a própria vida.
Actualmente estamos numa “onda” de deixa andar, os outros lutarão por nós não é preciso “mexer uma palha” o tempo tudo dirá…
Estes estados de ataraxia vivendo um carpe diem desregrado fazem desta geração mais uma geração à rasca do que rasca.
Está nas nossas mãos provar o contrário, não esperem pelo tempo porque ele não espera por vocês, ele é o eterno e derradeiro consumidor de almas!

Miguel Gonçalves

sábado, 18 de outubro de 2008

Sonho

No silêncio do meu quarto
abarco o mundo todo lá fora.
Tenho em mim esse todo,
essa enchente de sonhos.
Tudo é real em mim dentro,
tudo existe tão estranho a mim.
O tempo é um distância sem espaço,
nele cabem todos os sonhos.
Como as terras longínquas,
sei que existem,
mas não sei se lá estarei,
um dia...
Tenho sonhos assim,
distantes, remotos,
abruptos, inquietantes.
mas não sei se lá estarei,
um dia...
Mesmo assim sonho.
Mesmo assim as terras longínquas
existem.
Tão longe de mim,
aqui
dentro do meu quarto.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Liberdade

I

Liberdade
era eu querer ir embora
e ir.
Era eu puder ir embora
e ir.
Sem destinos,
sem sonhos,
sem promessas.
Ir,
começar de novo.

II

Gira às voltas
esta vida.
Erros aprendidos,
caminhos novos.
Ah, se eu pudesse!
Ia-me embora
e nas voltas
que dá a vida
não voltava mais.

III

Novo início,
novo começar.
Perder prisões
sentimentais.
Esquecer desilusões
das mentiras fatais.

IV

Sei que lá voltarei,
sei que voltarei
a sentir
o que senti antes,
sei que voltarei a ver-te.
E nesse momento
serei feliz
por não sentir
o que senti antes.
Por não te ver de novo.
Serás outra, serei outro.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Sei

À procura da verdade,
da nova realidade,
percorro caminhos reais
repletos de novo ideais.

Vejo sentimentos
sem revestimentos.
Reduzo eventualidades,
prevejo casualidades.

Os sentimentos da razão,
superlativos ao coração,
guiam a minha vida adiante
com racionalidade diletante.

Sei de onde venho...
sei o que quero...
sei para onde vou...
sei com quem...
sei como...
sei...

domingo, 5 de outubro de 2008

Espera do Tempo...

A vida é um cerco de verdade e mentira,
Onde os sonhos poisam suavemente
Na realidade que ofusca meio dormente,
Nos meus olhos atentos de lince.

A amor crepita tomultuoso na alma!
O sabor da alegria consome o que me acanha,
A felicidade de ambiguidade tamanha,
Traz-me sucintamente uma breve calma.

Sei que tudo o que quero, eu consigo,
O que até hoje atingi foram cumes agudos,
E, entre gritos estridentes, surdos,
Docemente afundo o meu porto de abrigo.

A minha vida és Tu simplesmente,
Só que, esquecida e perdida Tu andas,
Abraço o Futuro por vezes sorridente.
Esperando...a carta escrita que Tu não mandas.


Miguel Gonçalves

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Tu...

O nevoeiro turva a razão que preenche o nosso amor,
Vejo em ti algo de grande, algo de valor,
Tudo o que conseguimos até hoje jamais vai morrer,
Talvez um dia irá vencer, na lápide irão escrever;
Casal modelo, casal marvavilha...
E só assim o Sol brilha!
Com o azul vasto do Mundo, quero dizer por um segundo,
Que te amo de verdade, viver a realidade,
Que é estar ao teu lado e fazer parte de ti,
Ir até até ao Deserto sem fim, caminhar sóbrio na loucura,
Ver por momentos a noite escura, adormecer no teu regaço,
Beber a água do riacho da vida, caminhar a passos largos para a saída,
Que é viver contigo no pensamento noite e dia(...)
Sentir o cheiro do teu perfume crespar todo o meu corpo,
Ir contigo ao fundo e chegar ao topo,
Sentir todo o prazer do teu sorriso, mergulhar na incerteza de ser indeciso,
Dizer sim, ou não! Refutar o teu coração, olhar no teus olhos de mel. Sentir o doce sabor do teu beijo, e pedir um desejo, que sejas minha para sempre!
O coração não mente, Ser o homem que sempre desejaste, e amares-me como nunca amaste! É tudo o que quero desse teu espírito rebelde, que me faz ser feliz nos dias de tristeza pura, e tudo perdura nas mãos do destino, quem sabe se ecoará o sino, que ditará a nossa ligção para sempre, e só a eternidade testemunhará o nosso amor!
O calor da paixão queima quando toco o teu níveo corpo desnudado, a vida passa-me ao lado, o tempo para, somos uma alma só que grita de desejo e que presta tributo à grandiosa Vénus que lá do céu, anelou as nossas vidas para além do infinito...!

domingo, 3 de agosto de 2008

Catarse em Surdina

O aroma a café flutua,
Na brisa suspensa da manhã,
Um sorriso na tua boca sã,
Despe a minha alma já nua!

Sinto que sentes saudade,
Daqueles momentos esquecidos…
Nós entre os lençóis despidos,
Entre pensamentos contidos,
Negamos a Genuína Verdade.

A verdade que reside no nada…
E caminhamos juntos para o abismo!
Amar, é puro egoísmo,
É dar azo ao lirismo,
É percorrer a mais Anil Estrada!

Estrada essa, meia perdida no horizonte…
Resgatados por um Sentimento Atroz,
Descobrimos pedaços de “noz”,
De alguém bem como nós,
Tentou escalar o mais Inato Monte!

No seu cume…a Vitória!
Apesar de todo o sofrimento,
Gozamos o Supremo Sentimento,
Saboreando cada momento,
Até ao final da Inverosímil História

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Matrimónio

Casei-me com a poesia
de aliança posta no dedo.
Com amor no verso rebuscado
Gerámos uma bonita melodia.

As palavras são orgasmos
do sexo virgem das estrofes
que, exaltadas em belos acordes,
me saiem a espasmos.

De muita ou pouca métrica,
são versos criados e educados
nem sempre com simétrica.

Uns pequenos, outros anafados,
filhos do amor da técnica,
muitos vêm-se engasgados.

Servo

Nestas folhas ençaimadas
com as canetas esgazeadas
Escrevo, Escrevo, Escrevo!
Serei eu um servo?

Escrevo quando me apetece
e quando a alma tece.
Escrevo quando quero
e quando desespero.

Escrevo a vida que tenho
e a que desdenho.
Invento, minto, engano.
Qualquer dia estou insano.

É uma loucura furiosa,
e por certo tinhosa,
esta furia louca
que registo na folha mouca.

Serei eu um servo?
À vida que escrevo
estou acorrentado decerto!
Todavia gosto e não protesto.

sábado, 12 de julho de 2008

Telas de Interesses

I
Sou pintor de telas,
tecidos de caras fingidas
enegrecidos a cada pincelada.
Traços interesseiros
sem dor maior
que não sentir
dor por ninguém.

II
Vidas pintadas de interesse,
emoções inventadas a traço.
Suposições de cores superiores,
mentiras desenhadas.
As cores são todas iguais,
sem superlativo nem inferioridade.
Cada cor vale o mérito
que cada uma das outras lhe dá.

III
Quanto mais alto cai a tinta
maior o borrão.
As cores que fazem bons quadros
vão-se pintando humildemente.
Criam-se e recriam-se
numa harmonia de sentimentos.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Viagem

Viajo por uma terra distante,
Longe de ti, longe do Mundo,
A vida em tom de diamante...
A saudade bem lá no fundo!

Ergo os olhos do chão,
Abarco todo o Horizonte,
E no cume de um alto monte –
Sou homem de baixa condição.

Observo meus pés gretados
Pelo tortuoso caminho,
E de mãos e pés atados,
Sou livre, estou sozinho!

Sou livre quando sonho,
Estou preso quando amo,
Nada é mais medonho,
Que amar somente um sonho...!

Ser todos e ser um só,
É algo de transcendente,
É ver o mundo por uma lente,
É pensar como uma “mó”!

Ser pedra, flor ou gaivota,
É não ser, respirar e voar!
É ser um eterno agiota,
Que vive do não sonhar...!

Agora que olho o meu reflexo,
Vejo alguém que desconheço,
Nem sei bem o que pareço,
Sou lodo...sem nenhum nexo!

Cheguei finalmente ao destino,
Que nem eu sei bem onde fica
...Talvez esteja a viver perdido,
Num vago céu que mortifica!

sábado, 28 de junho de 2008

Desejo

Quando os teus olhos olham para mim
todo eu sorrio por dentro, assim.
Um só sorriso por inteiro,
a esperança num amor derradeiro.

Não é só desejo, nem desdém,
é vontade de te ver rir também.
Detesto escrever em ardor,
faço-o por mim, por favor.

São palavras que bailam
e na solidão me embalam.
São ditos por dizer,
por não te poder ter.

A vida nos dirá um dia
se aquilo que eu queria
era assim tão ignóbil,
ou se era apenas difícil.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Na Baixa

Numa rua longa e estreita,
Saboreio um doce café,
E à esquina alguém espreita,
À procura da sua fé.

Sinto uma sobriedade estonteante,
Os pombos voam a pique...
E eu alheado, bem distante,
Espero por alguém que ali fique.

Esse alguém tarda e não vem,
Eu na esplanada olho em redor,
Aprecio o bom que a vida tem;
Que é ter tempo e saber o mundo de cor!

Ao peito passeio de sacola,
Dou passos curtos na vida,
E agora já de partida,
Observo o corrupio do Nicola.

Um bom café sabe sempre a pouco,
Numa bela ida a Lisboa,
Ficamos logo ansiando por outro,
Já que por enquanto, a vida é boa...!

sábado, 21 de junho de 2008

Poetas Boémios

Somos poetas da vida boémia,
a escrita é a nossa alma gémea.
Divagamos pelas ruas da arte,
fomentamos o verso em toda a parte.

A caneta como uma bandeira hasteada,
grava a rima no papel.
Somos a voz da alvorada
que nem a todos sabe a mel.

Em cada palavra um dito,
os poemas não são um mito,
existem antes de pintados,
nas nossas mentes são criados.

Travamos batalhas literárias,
caminhamos por trilhos agrestes,
nossas mentes não são precárias,
vencem provas, passam testes.

Nem todas serão vitórias,
mas mesmo as lutas inglórias
dão-nos forças a prosseguir
e tudo nos faz fluir.

O pensamento é sonho e realidade,
somos mensageiros do futuro.
Vivemos iluminados pelo obsceno,
somos mentira, somos verdade.

A nossa realidade é sermos pensantes,
e vamos prosseguindo caminhantes
de caneta em riste, incólumes
a vias adversas aos nossos costumes.

O alcool ferve nas veias,
na língua queimam-se palavras,
iluminamos sociedades de larvas,
que afoitamente caem nas teias.

Rebentam-se-nos rios de palavras,
damos à luz novas vidas.
Educamos à nossa maneira
sem medo de qualquer barreira.

No cigarro aspiramos à escrita,
que se dilui num fumo literário.
A biblioteca como uma mesquita
à eternidade dita
o que é viver do dicionário.

Vítor e Miguel
Idanha, 15 de Junho de 2008

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Momento

Num momento
a que todo pertenci,
além nada mais de mim.
Passaram as tuas mãos
debaixo dos meus olhos cabisbaixos,
pegaram nas minhas timidamente,
e eu, pensando estar a sonhar,
belisquei a minha alma.
Não acordei e deixei-me levar.
Uma dança sem domínio
onde os meus pés pisavam os teus
e o teu coração pousava sobre o meu.
Os teus murmurios e o teu olhar
deixaram-me embebido em devaneios.
O mundo à minha volta
deixou de me rodear.
O som que se ouvia
era só um palpitar.
Quando a dança acabou
o passado não regressou.
A minha vida tinha ganho
um momento para recordar.
E o teu coração
nunca mais abandonou o meu.

sábado, 14 de junho de 2008

Eternidade

Quantas vidas tenho
por engano,
pergunto-me sério.
Provavelmente
as que são dúvidas
no meio
das certezas.

Não me interessa
o que vou ser,
quero saber
o que sou.

A curiosidade
nasce quando
me tento imaginar agora.
Onde estou
não sei,
onde estarei
não me interessa.

É nestas palavras
que estou.
Com estas palavras
quero ficar.

Vêem ?
Afinal sei
quem sou
e onde
estou.

Estou nestas
letras.
Sou estas
palavras.

Aqui estarei
sempre,
Aqui serei
sempre.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Bakhar IV

Tudo termia ferozmente, areia escorria como lava e calhaus rolavam aos tropeções.
Batigo corria velozmente escapando como por milagre àquele cenário tão hostil.
Passados uns minutos o pesadelo terminou e tudo voltava à normalidade, só uma densa poeira negra denunciava a ocorrência da adversidade.
O miserável marinheiro parecia um mendigo, sujo e sebento, meio roto; sacudia-se do pó que os rasgados trajes acolhiam.
Sentou-se numa pedra para se consciencializar do que se sucedera. Sentia-se deveras abatido, pois era impossível voltar para trás...
Ali permaneceu um bom bocado olhando o vazio, todo ele era pensamentos, absorto e submerso na sua mente, divagava entre vontades e sentimentos. A impotência era dominante mas a raiva era superior.
Para agradar ao Capitão e mostrar valentia perante os camaradas aceitou o desafio e abraçou aquela missão e, agora queria apenas sair daquele buraco com vida! Queria poder contar aquela aventura um dia mais tarde aos seus netos à roda de uma fogueira banhada de luar.
Sentia-se um fraco agora, não se reconhecia como Homem. Nunca tinha saboreado aquele sentimento, sempre saíra vitorioso, sempre ultrapassou as suas dificuldades sem ajuda de ninguém e agora, encontrava-se ali só e abandonado num calhau olhando o nada e lamentando a vida.
Disse para consigo:
- Este não sou eu. Nunca senti o fracasso de uma derrota, sempre avistei o horizonte e agora temo a morte!?
Tenho mulher, tenho um filho, sobrevivi a um naufrágio aterrador e eles também por meu intermédio; fui um Herói!
Agora, o que vejo é só poeira suspensa, como que um nevoeiro ao fim da tarde; voltar atrás é impossível, mas a verdade é que sempre olhei em frente. Os combates deram-me destreza, as guerras fizeram-me Homem, as vitórias tornaram-me num Deus de carne e osso! Não posso desitir, aliás não conheço essa palavra, a derrota soa tão mal não a aceito sequer. Para perder mais vale morrer, mas aqui é impensável; não quero desiludir o Comandante e a minha família precisa de um guia, o meu filho tem que ter um Pai e os meus companheiros necessitam de Herói!

Batigo levantou-se pegou noutra tocha ateou-lhe fogo e começou novamente a desbravar terreno; o fogo era agora a sua única arma pois o pau ficara perdido – soterrado.
Continuou caminhando até ter dado de caras com uma pequena galeria que parecia não ter saída, sentiu-se desfeito, olhou em redor e não viu luz em nenhuma direcção.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Sem Abrigo

Sinto-me um vagabundo no mundo,
Perdido nas malhas do sonho,
Absorto, quieto, mudo,
Vislumbro um futuro medonho…!

Sigo as pegadas da penúria,
Caminho sempre no breu
O meu estatuto é escória,
Não sei se tenho céu.

Amo os outros demais,
A esmola é a minha vida,
Durmo num velho e podre cais,
Sempre à margem da linha…

Já amei e já me amaram,
Já fui uma pessoa com alma!
Agora em liberdade me amarram,
E, quem eu amo não me salva.

A sombra é a minha parceira,
Olho, e ela lá está – pronta a ouvir,
Vivo bem no meio da Cegueira,
O meu rosto já não sabe sorrir!

Se uma rua é liberdade,
A liberdade mora em mim,
Utopia é a felicidade,
A tristeza é um sem fim.

Espero por quem não vem,
Por esses tempos de mudança…
Esperança já ninguém tem,
Onde estará a bonança...?

terça-feira, 3 de junho de 2008

Oração

Oh Senhor, venho pecando pela recusa em mentir.
Falo verdade por leis minhas
e não por medo de cerzir
os castigos de petas confessas.
De igual modo a teus olhos peco
pois a minha razão não te declara.
Largas páginas de papeis contabilísticos,
longas folhas de riscos artísticos,
e nenhuma é a tua ara.
Como tudo contemplas, vê as lágrimas que seco
às tuas santas das notas e das moedas.
E testemunha como tens as velas apagadas
pelos imitadores mealheiros substitutos,
como se teus designios fossem prostitutos.

Oh Senhor, criação de senhores
para justificação de pecadores,
perdoa-me o trato tão familiar
a ti, filho mais peculiar
das invenções paridas do Homem.
Acredito que o Ser Humano chegou à tua beira
antes de tu próprio seres credível
e atingiu o absoluto com ajuda de peneira,
auxiliar de sua imaginativa parideira.
O divinizado humano é um facto crível
que não me deixa ser agnóstico,
e me faz postergar o católico.

Oh Senhor do Homem que te criou,
deixo esta oração para que nos rezes.
Lembra-te em todas as vezes
de quem no mundo te alimentou
e pede para não seres esquecido,
nem de faculdades enfraquecido.
"Glória ao Pai, ao Filho e ao Espirito Santo,
assim como era no principio,
Agora e sempre Amen."

11 de Abril de 2006

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Indulgência

Sei que sou um tanto desconexo,
Nem sempre sou compreendido,
Procuro um ser que me entenda,
E esse ser talvez sejas tu mesmo!

O destino cruzou nossas vidas,
Somos diferentes mas tão parecidos,
Fazes um esforço por me dissecares,
Mas é tão inglório; por vezes, nem eu me entendo!

A vitória já é nossa,
Conquistamos o amor divino,
Se nos amamos, é a vontade de Deus.
Somos um hino aos anjos!

Sei que a mágoa te atordoa,
Te melindra, te faz chorar,
Cada lágrima tua é minha,
Cada dor tua sinto também.

A mentira ás vezes parece uma cruel saída,
Mas eu estúpido minto;
Não por vontade própria, mas por conveniência,
Sei que é um desaire, uma demência!

Agora peço perdão,
Se o mereço; Sim, Não?!
Só sei que te amo e amei,
Ouve agora o coração!

- Descuculpa, mas amarte-ei...!

domingo, 1 de junho de 2008

Liberalismo

Emana de mim um liberalismo
sem desapego pela igualdade.
Com todo o romantismo,
acercou-se sem vaidade.

Não há modelo sem senão,
viver sem pai protector,
obriga à luta pelo pão
e às conquistas com fervor.

Desemperra a sociedade
num futuro infinito.
Corre-se pela felicidade
de um presente bonito.

A igualdade à partida
não permite distracções.
Não entram nesta corrida
molengas nem calões.

Fica o pai observando
se tudo vai com legalidade.
Não estorvando
quem trabalha por vontade.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Bakhar-III

(Bakhar)III


Batigo enfrentou o desafio recolheu tudo o que era necessário e pôs mãos à obra, pegou numa comprida e grossa corda feita de lianas trançadas com calhau incrustado na ponta, fez girar a corda com a mão e esta foi prender-se a uma árvore do outro lado mesmo à beira da cascata, desceu a pique sobre a corda com um pequeno tronco em forma de “V”. Do outro lado o Capitão e os camaradas observavam-no orgulhosos e ansiosos.
O detesmido marinheiro atravessou o forte curso de água empunhando o tronco na mão, olhou os companheiros mais uma vez e entrou naquele buraco cavernal.
Um cheiro húmido, abafado com pequenas brisas cálidas, arepiavam-lhe o corpo molhado que tremia de vez em quando, para afastar os pensamentos mais receosos.
Archotes percorriam todo o corredor que parecia ser interminável, um suave aroma a queimado denunciavam que tinham sido utilizados à relativamente pouco tempo. Sempre de tronco em riste caminhava docilmente pé-ante-pé, sentia agora uma violenta corrente de ar bafejar-lhe o couro, era tão ventosa que caminhava com custo.
Deparou-se com uma galería mergulhada no bréu, a luz diurna ali não penetrava. Pegou no archote mais próximo e ateou-lhe fogo com fósforos que estavam mesmo por ali, a luz jorrou pingando pedaços incandescentes para o chão, uma escadaria estendeu-se quase até o olhar se perder, Batigo olhou para trás pensando nos camaradas que o esperavam com novidades mas, irredutível sacudiu a cabeça afastando os pensamentos e a sensibilidade humana, e enfrentou a escadaria de archote erguido e tronco em punho sempre receoso de perigos eminentes. Aquela calmaria excitava-o, era fora do normal uma gruta não possuir nada absolutamente, nada terreno, nada espiritual!
Mas ele lá continuou com passos curtos, andou e andou até que sentiu a terra tremer...

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Sussurro

No meio de todo este arvoredo
alguém me sussurra ao ouvido.
-Vai em frente, não tenhas medo,
não suponhas nada como perdido.

Esta frase dita de passagem
pode parecer descabida.
É somente fruto da folhagem
mas foi por mim entendida.

Aqui, onde o respirar é terno,
sinto-me tão vulnerável
a procurar um futuro eterno,
com tudo de agradável.

Sai-me doce esta escrita
e sem dificuldade.
É sintra faminta
da minha felicidade.

Tudo assim devia ser,
de grande simplicidade.
Talvez aprenda a escrever
com maior serenidade.

É paz que sinto neste momento,
a minha alma ri-se feliz.
Oiço os pássaros, oiço o vento
e o que a serra me diz.

-Vai em frente, não tenhas medo...

Sintra, 25 de Maio de 2008

domingo, 25 de maio de 2008

Homini Liberum

Sou homem de coração liberto,
Vejo uma Humanidade pura,
Presa na Liberdade escura,
À procura do destino certo.

A boa vida é só frustração,
Uma alma presa à de um irmão,
Que busca uma vaga Liberdade,
Uma fraternidade…Libertação!

Sou um homem, em muito liberal,
Aceito a força da revolução,
Neste mundo há tanta coisa mal,

Quanta amargura, quanto Sal…
Há quem contenha o mundo na Mão,
Há quem dê a vida por um “Irmão”…!

sábado, 24 de maio de 2008

Sintra

Falha-me crassamente a encrespada memória
à passagem curvilínea de conjectura tão rectilínia.
É tal a emboscada que fico colérico de burrice.
Achar eu em Sintra a iluminação artífice.

Sempre a mesma espertinha esparrela.
Zomba de mim, Senhora de beleza donzela,
ao fazer-me crer, e conseguir, que inspira!
Carnalmente lá, o que há me tira.

Era intuito deitar a cabeça no travesseiro,
fazer-se luz dentro, noite ou dia!
Sequer pouco, sequer nada, nele inteiro.
A iluminação surge na presença perfídia.

Só na minha casa em Sintra sem o ser,
com os olhos cerrados, acima do travesseiro
de Sintra que não é, se torna ideável o conceber.

11/02/2005

Fome

O aperitivo que bebo a fome
enleado me concerne apetite
porquanto bebo que ela some
e o digestivo sobe a pique.

Essa ânsia de o gerar
em tempo finda cedo.
Já sem a fome a pensar
no poema definido.

18/01/2005

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Cruz

Abrem-se tréguas em água agitada
neste arrepio da espinha à caneta.
Que confusão, na vista a manada,
hipérbatos de alma nua de assenta.

Levanta-se agora a dita sem lógica
ao ver passar o pastor e suas cabras.
Perdoe-se tinta caída já seca
ao vislumbre do mar nas velas!

De onde vem, onda que passa ?
Na mão minha o criador,
talvez para onde vai manada e pastor.
De rubor já vestida a ardente insubmissa.

Atravessa-lhe a ideia de vileza,
quando vê cornos com destreza
na tinta dos panos da caravela.
Lá vai água e o pastor com ela!

de 15/01/2005

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Bakhar...II

II


Depois de um tremendo esforço muscular dos intrépidos marinheiros o território estava circunscrito. Uns bem proporcionados cem héctares servirão de Forte contra a possíveis invasores.
O dia passára sem grandes sobressaltos, apenas a fúria de uma mãe Javali que serviu de jantar, assustou a minoritária população.
O jantar decorreu de forma pacata, entre goles de vinho e nacos de carne acompanhados de pão, servidos diante uma enorme fogueira; histórias de circum-navegação foram contadas com grande entusiasmo, perante uma audiência atenta e alegre por estarem vivos para as ouvirem...
Depois de satisfeitos; pachorrentos lá iniciaram a custo as místicas danças tribais que afugentaram uns e deleitaram outros.
A noite ia já alta quando o eleito Capitão por unanimidade deu a ordem de recolher.
A fogueira adormecia coberta pelo céu estrelado, equanto os sons nocturnos da selva tropical embalavam os Hidjha mais espertos.
Durante a madrugada, já quase ao raiar do dia, uns urros estridentes e horripilantes acordaram todos os colonos, que rapidamente acorreram às armas; o ruído era tão intenso que causava calafrios olhavam-se estupefactos, alarmados e ninguém conseguia decifrar que animal seria, imaginávam já monstros corníferos ou demónios infernais.
Escondidos num subterrâneo propositadamente construido para eventualidades deste tipo ou outras de maior envergadura assinadas pelas Mãe Natureza, lá permaneceram até se sentirem em segurança. Quase duas horas durarm aqueles berros petrificantes...
O Sol já se estendia, o calor começava a irradiar e o Capitão decidiu averiguar de onde provinham aqueles estranhos ruídos, seleccionou um pequeno grupo de homens e partiram.
O caminho pela montanha era tortuoso e cheio de gomos, o verde cobria-os; com catanadas desbravavam caminho. Em fila indiana o Capitão dirigia o pequeno contingente, a subida parecia evidente, devido ao facto de, quanto maior a altitude, melhor o som se propagava. O chefe dos Hidjha estava convicto que os urros provinham da montanha que dormia encostada a uma larga cascata bravia.
Subiram quase toda a montanha e estavam no pico da cascata só que do lado oposto, quando notaram um enorme buraco através da água transparente.
Será uma gruta!? – Pensaram.
O capitão escolheu o seu melhor marinheiro (Batigo) para ir averiguar.

Inconformado

Há dias em que nada apetece,
O simples frio no rosto,
Serve de reconforto,
Enquanto a alma aquece!

O aroma quente a café,
Bafeja o ar impuro,
E olhando o breve futuro,
Temos o presente mesmo ao pé.

De espírito bem feliz,
Devido à vaga paixão,
A verdade é que se diz;
Pensa melhor coração!

Tudo se deseja nesta vida,
Fugindo mesmo à verdade,
E a verdade é que à saída,
Há sempre alguém da cidade…!

Degredo

Possuo num segredo o teu sorriso,
neste fim do mundo sem fim.
Meu degredo onde perdi o siso
a pensar em ti assim.

Nada mais tenho que seja teu
e vivo feliz neste nada ter.
Tudo o que tenho é meu,
o teu sorriso no meu entardecer.

A minha vida anoitece
num céu de sonhos sem estrelas,
tudo o que fui desaparece
no escuro, nem sol, nem velas.

E sentado sobrevivo sem ver.
Mesmo prostrado o futuro
teimo em não perder
o teu sorriso, no escuro.

sábado, 17 de maio de 2008

Simplicidade

Adormeci...
sonhei com a felicidade...
Assim, tão simples como isto.
Adormeci...
Sonhei com a felicidade...
Com a minha...
Assim, tão simples como isto....
e acordei.
Assim, tão simples como isto.

Vida

I
Escrevo e aprendo,
e vivo,
e volto a escrever,
o escrever ensina-me a vida,
a vida leva-me a escrever.

II
Vivo esta vida, verdadeira.
Vivo-a no falso de mim,
a sonhar com vidas que não tenho.
Viver outras vidas a sonhar,
não é viver também?
Não é uma forma de vida?
A minha vida é esta,com todas as vidas, que sonho, dentro.
Eu sou esse,
homem das sete vidas.

III
A minha vida é um livro,
ao qual falta a página da felicidade.
Deus arrancou essa página.
As outras...escrevi-as eu!

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Pai

Pai, quantas vezes te desiludi,
E, quantas mais não te escutei,
Sei que mil vezes errei,
Por não ter ido por ti.

Só me dás o que realmente mereço,
E o que não mereço também,
O teu amor não tem preço,
Como tu não há ninguém!

Muito esperas-te por mim,
Ansioso por me tocar,
E, quando ouviste chorar,
Era eu que nascia enfim!

Pegaste-me de olhos molhados,
Não contendo a alegria,
E entre beijos, nos teus braços,
Eu ali para ti sorria…!

Se pedaço de ti sou eu,
Tu pedaço de mim és também,
Se há amor maior que o teu,
Só mesmo o amor de Mãe.

Por mim vais viver sempre,
Enquanto vivo eu estiver,
Viverás na minha mente,
Para me ajudares a “vencer”.

Obrigado, pelo meu belo ser,
Tu és um grande orgulho,
Podes estar certo e seguro,
Que te vou amar até morrer!

terça-feira, 13 de maio de 2008

Pego da Água Alta

Ribeiro que corres diante meus olhos!
Aqui e ali cegas-me e não te vejo!
Passas tão docilmente como um beijo,
És fruto de sonhos e desejo…

A realidade é toda tua, percorres a mata nua
…Diluída na civilização!
Na realidade crua a tua verdade perdura,
Sobre a palma da minha mão.

Mestre de rios, de mares, de oceanos;
Caminhas por todo o Mundo, tudo concebes,
Além, de quão pensamentos estranhos,
Fluís mas não te percebes.

Oh Ribeiro de tortuosas águas!
Que passam, e que já não passam…
Anseias por grandes mares,
E, quando és livre te amordaçam!

A tua vida é curta, sazonal,
Dura apenas a Invernia,
Casto permaneces, espiritual,
És som de Mar…és sinfonia!

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Comboio

Esqueci-me do Discman, pensou no exacto momento em que embarcou. O comboio começou a andar,como se só estivesse à sua espera. Na trepidação quase caía. Tirou a mala que trazia nas costas,cuspiu-a com as mãos para cima dos bancos e sentou-se de costas para o destino.Eram três da tarde, previu que por volta das cinco e meia chegaria à Gare de Santa Apolónia.Estava na última carruagem, e seria só para ele não fosse o casal de velhos sentados atrás.Afonso previu que fossem velhos pelo tom quente das suas vozes, porque nem sequer os viu.Vivia em constante alheamento do mundo, simplesmente porque nunca amara.A sua única realidade era a própria imaginação. Essa indiferença deixava-o de mau humor eazedo até com os amigos. Estes desprezaram-no e a namorada esqueceu-se dele nos braços de outro.Achou, então, que deveria tentar um novo começo. Lisboa, terra em que nunca estivera, pareceu-lheo sitio certo.O chiar de ferro a beijar-se chamou-lhe a atenção, olhou pela janela, viu que estavam parados numaterra a pouco mais de trinta minutos do local de partida. Entrou um homem com barba de três diase uma mulher com uma criança ao colo. Apesar dos lugares estarem quase todos vagos, entenderamque deveriam sentar-se junto de Afonso. O homem pediu-lhe, gentilmente, que tirasse a mochila esentou-se a seu lado. A mulher e a criança sentaram-se nos lugares de frente para ele.Foi o suficiente para o deixar irritado. Ainda para mais teve a certeza que o bebé adormecido,assim que acordasse, começaria a berrar.A viagem prosseguiu. Minutos depois, vinda de outra carruagem, apareceu outra inquilina.Acomodou-se nos bancos opostos, mas, de frente para Afonso. No segundo em que se sentouolhou para ele, que pressentindo-a virou o coração na direcção dos seus olhos.Esse olhar e o cheiro a jasmins, seria a última recordação no último momento da sua vida!Os minutos seguintes resumem-se ao esforço sobre-humano de não olharem um para o outro, porque,cada vez que o faziam, os olhares cruzavam-se envergonhados, como se esse sentido tivesse acapacidade de um outro, e falasse, e gritasse! Por várias vezes, em diferentes fracções de segundo,Afonso achou que deveria fazer por conhecê-la e por outras tantas vezes, nas mesmas fracções desegundo, não teve coragem. Assim ficaram naquele Inter-cidades, perdido por aldeias do litoral,durante pouco mais de uma hora. Até que o comboio voltou a chiar e a parar. A viagem chegara ao fim,mas não estavam em S. Apolónia, nem perto de Lisboa. A rapariga levantou-se, olhou uma última vezpara Afonso, sorriu-lhe e dirigiu-se para a saída. Ele permaneceu inerte, sem tomar a sua primeiradecisão corajosa, vendo-a já no lado de fora.Instantes depois, um comboio desgovernado, na mesma linha e na mesma direcção, embateu noque estava parado.E o bebé nunca mais chorou.

domingo, 11 de maio de 2008

Paupérrimo

Tu que andas descalço,
De pés feridos caminhas,
Sempre em sobressalto,
Por “Quelhas” estreitinhas!

Mil vezes olhas para trás,
Para veres se és seguido,
Procuras uma breve Paz,
Para o teu sono sumido.

Sobes escadas, desces ruas,
Segues o doce aroma a pasto,
Perdido nas vielas escuras,
Encontras um novo rasto.

Essa tua vidinha consome-te,
Sempre com fome, sem dinheiro,
Pensas ter o Mundo inteiro,
Mas, a miséria persegue-te.

Olhas o chão, e que vês?
Teus pés molhados e feridos,
Calosos e consumidos,
Por uma vida de pez.

Tu és feito de desgosto,
És marginal, rejeitado,
De pés, corpo e rosto,
(…) Deformado e mal-encarado!

Oh, pobre alma sequiosa,
Que fumas a beata do outro,
Que caminhas na Vida desgostosa,
E, que não tens onde cair morto!

Tu que ouves o “tic-tac” dos ponteiros,
E que observas o tempo passando,
Vais gozando com os porteiros,
Que à porta vão conversando.

Tu que és como um rato,
Pequeno, rápido, hábil, ,
Tens uma alma dócil e frágil,
Porque te escondes no “mato”?

Tu que uivas à Lua,
Como um Lobo solitário,
Não tens espírito precário,
E que fazes de casa a Rua,

Ouve! Ouve as minhas palavras,
Que não se esqueceram de ti
Vai-te aquecendo nas boas brasas,
Enquanto esperas a Brisa do Fim!

Amor dúbio

Quando o amor nos parece um tanto vago,
É quando ganha um sabor mais especial,
Nós, bebemo-lo de um só trago,
Para que nunca nos saiba mal!

O seu sabor meio acre,
De um doce amargo inconcebível,
Sela beijos com lacre,
Tornando-o invencível!

Nada pode contra ao amor,
Pois, sairá sempre vitorioso,
Há que o ache meio jocoso,
Mas, é um verdadeiro gladiador.

Mesmo a distância não é barreira,
Ele existe em toda a parte,
E, não é preciso saber da arte,
Até o mais afoito se queima!

O amor existe. Olha para ti,
Ama-te acima de tudo,
E, se vires mesmo lá no fundo,
O amor-próprio não tem fim…

O teu rosto…um sorriso esboçado,
Vive sempre na mira do futuro,
O amor pode estar mesmo ao lado,
Mas, também se esvanece num segundo…!

Tabaco

Vontade que me consomes,
Vício que me destróis,
És cativo, és Liberdade,
És somente vontade…
E, na verdade não dóis!

Cada vez que te aspiro,
A minha alma sôfrega,
Exála puro prazer,
Adoro ver-te esvanecer,
Numa lucidez mouca.

A noite respira o teu odor,
Os boémios te prestam culto,
No bréu não passas de vulto,
Quem te aspira sente sabor,
E, lágrimas brotam de ardor…

Tudo se torna confuso,
Se no ar és abundante,
Para uns és errante,
Para outros és obtuso.

Seguramos-te entre os dedos,
Numa ignorância tal,
Superas todos os medos,
Fazes parte de segredos…
Aspiramos todo o teu mal!

A outros vícios te unes,
Dás confiança, acalmas.
Pensamos ser-te imunes,
De doenças tu nos munes,
E apaziguas boas almas.

O silêncio é teu aliado,
Atrás de um vem sempre,
Mais um e outro Cigarro,
E a saúde nunca mente,
Tentação imbecil e demente,
Que começa com catarro,
E termina dolorosamente!

Não tens sabor definido,
E a tantos tens cativo…!

Bakhar

I

O nevoeiro era denso e fumegante, espesso como o sargaço. Navegava-se numa rota sem destino, as ondas iam embalando o bréu nocturno num som de bravura. A certa altura, um embate sacudiu toda a embarcação o casco cedera e a água era já abundante.
O Comandante apregoava ordens sem nexo; ora bombordo, ora estibordo. Dominados pelo pânico os marinheiros corriam esbaforidos pelo convés já encharcado, a morte estava para muitos eminente, senão mesmo, para todos.
Contra uns rochedos escarpados vindos do nada a caravela despedaçava-se como papel ensopado...
Grandes pedaços de casco flutuavam já enrolados pelas espumosas e iradas ondas e com eles, tripulantes também. Os Hidjha estavam prestes a perderem-se para sempre na fúria abissal do grandioso Pacífico.
...O Sol erguera-se finalmente e com ele a pouca tripulação que se salvára também, atordoados ainda pela terrível noite que passaram em alto mar entreolharam-se e agarraram a fina e brilhante areia como se jamais a deixassem fugir. Abraçaram-se depois infantilmente, entre risos e gritos como se quisessem dizer; estamos vivos – rir e gritar são sinónimos disso.
Agora já recompostos sacudiam-se frenéticamente tentando tirar a areia que molhada ainda esfoliava o corpo. Olharam em redor e pensaram, será uma ilha?!”Parece o paraíso...!”
Os 10 homens e as 2 mulheres que sobreviveram ao naufrágio decidiram ali mesmo que jámais voltariam a enfrentar o mar, navegar nunca mais!
Começaram por explorar o terreno, sempre pela margem para ver se sería mesmo uma ilha! Fizeram uma enorme marca no areal da praia onde naufragaram e pacientemente começaram a caminhar.
Para seu espanto repararam que alguns mantimentos tinham atracado ali mesmo, Juntaram todos ao pé de uma pequena Palmeira e prosseguiram caminho...
Depois de uma tarde inteira a caminhar notaram que tinham chegado ao ponto de partida. Era uma ilha deserta possívelmente, como não tinham avistado gente, deram-lhe o nome de Bakhar, o nome do bébé que milagrosamente também se salvára do terrível naufrágio.
Os famosos navegadores Hidjha tinham descoberto uma paridisíaca ilha deserta no Sul do Pacífico.
Anoitecera entretanto...O clarão do Sol ainda permanecia esmorecido algures no Horizonte longínquo!
O frio nocturno cobria toda a ilha com uma densa marzia, juntaram uns troncos por ali perdidos e fizeram uma fogueira para se aconchegarem. Dormiram profundamente, cansados ainda do susto e do dia que passaram.
A manhã chegou, as aves tropicais aclamavam estridentemente o nascer do dia, a fogueira jazia com um fino fio de fumo denunciante.
Acordaram a custo, o corpo doía-lhes mas, mesmo assim, os homens colectavam troncos para iniciarem algumas construções rudimentares e deliniarem assim território, enquanto que as duas mulheres preparavam os mantimentos que haviam dado à praia, e iam servindo pequenas porções de comida a todos os Hidjha.

A Literatura não è um fim é um começo...

O sabor quente da escrita, sempre fervilhou na mente da humanidade.
A inspiração nem sempre era companheira do escritor mas a verdade é que sempre se escreveu, grandes obras de arte por sinal, de genialidade quase divina.
Com a inevitável evolução que se dispersou em todos os sentidos, também a escrita e a literatura sofreram alterações significativas. Os hábitos de leitura foram decaíndo e o gosto de escrever tem ficado “no fundo dessa tal gaveta...!”
Com isto, a sociedade tem sofrido bastante porque caíu-se numa doce e saborosa ignorância quase aceite por todos e, os que estão contra são obrigados a redimirem-se; para quê erguer a voz contra a “cortante Nortada” de um povo que sempre se habituou a ver “eclipeses”...
Na verdade, a Língua Portuguesa é tão rica mas, não consegue vencer porque quem a promove é tão pobre de espírito!
Se isso depender de alguém e, se esse alguém formos nós, jamais deixaremos que nos considerem uns paupérrimos ignorantes que nem na economia nem em qulaquer outra vertente conseguimos ter êxito , a não ser nas desgraças, claro.
A Literatura precisa de alguém que a cultive e que, não veja só os sifrões à frente!
Dar o corpo ao manifesto por uma causa tão nobre como é Língua Portugesa, não é um martírio mas sim um enorme prazer! É pena que nem todos pensem assim!
Os jovens de hoje não sabem o prazer que dá abrir um livro, defesfolhá-lo, sentir todo aquele intenso aroma que emana a antiguidade mas, escrito para a eternidade. Com um valor cultural incalculável, pago a peso de ouro por muitos, outros deram o que tinham e o que não tinham, a vida inclusivé para, ainda hoje podermos ler coisas que nunca imaginámos terem acontecido.
- Palavras o vento as leva mas, o papel as detem!
Foi uma premissa pela qual sempre me regi e não me tenho saído mal.
A Burocracia é necessária sempre que não há confiança. Actualmente seria impensável viver sem papéis, eles, são provas irrefutáveis e incontestáveis quando se vive numa sociedade como a nossa e, se lida com pessoas que por vezes desejaríamos jamais ter-mos conhecido.
Aqui, fica um Rastilho para contaminar essas mentes anti-literárias, que gostam de viver no seio da sensaboria!!!

Lisboa acorda e grita

Dias cinzentos de tão pura languidez,
São quentes, abafados pela poluição que vês.

Os Cacilheiros partem repletos e ondulantes,
As águas já não brilham como diamantes;

O Tejo impuro deixa mácula e tristeza,
Assim tratamos nós a nossa Mãe Natureza.

Lisboa acorda e grita, sufocada aos sete Ventos,
Assim são os “úteis stressantes” e, barulhentos,

Todo este semblante tão insano e grosseiro,
Não se vê só em Lisboa mas, também, no mundo inteiro.

Vivemos numa nuvem densa,
De gases e lixeira suspensa!

Nascemos assim, “Puros num Mundo Podre”,
Apostamos no futuro esperando que ele logre.

Para este mundo ser mais civilizado e casto,
É preciso limpar, reciclar e não perder o rasto…!

sábado, 10 de maio de 2008

Almas Limpidas

Há pouco, sentei-me na companhia do meu Nicola. Emaranhado nas teias do pensamento, decidi que sim, ia falar-lhe! Também, não era assim tão dificil. E com sorte, talvez ela nem estivesse em casa...
Peguei no telemóvel, olhei-o por breves instantes, voltei a guardá-lo.
De súbito, um impulso invadiu-me, apetecia-me vê-la, estar com ela, dizer-lhe como me sentia depois de tudo o que vivemos juntos...Mas ao mesmo tempo, o medo de uma resposta que não queria ouvir toldava-me as
ideias.
Quando a conheci, há três anos, tive a certeza de que aquela era a mulher da minha vida. A minha dúvida baseava-se no facto de já ter sentido algo semelhante pelo menos umas quatro vezes. Desta vez, decidi tirar isso a limpo, focar-me apenas no sentimento e disserta-lo por completo, para ter realmente a certeza que não me enganava novamente. Esta decisão seria cem por cento da minha felicidade ou infortúnio. Resolvi arriscar e não me dei mal, até ontem.
Mais do que estes anos o que pesa é ter começado a vê-la como mãe dos meus futuros filhos. E é isso que vejo no fundo desta chávena de café! Ou lhe peço desculpa ou fico com o orgulho intacto....
Decidi-me, mandei o orgulho para o diabo! Estava apenas a três quarteirões da sua casa, pus-me lá em cinco minutos. Passei por um pequeno parque e as lembranças assaltaram-me. Ao chegar, o dedo permaneceu hirto e imóvel a um milimetro da campainha. Segundos depois já subia a escada e já não podia recuar.
Empurrei a porta encostada e entrei numa casa que já era minha, ou secalhar, que já deixara de ser. Ela estava linda, como sempre esteve, sentada no sofá que nós tantas vezes apelidámos de Sofá do Amor, por motivos que aqui escuso de contar. No entanto, naquele dia a sua disposição não era de amante à espera do noivo e sim de mulher traída, a que as lágrimas tornaram inflexivel.
Falei tanto tempo que os meus lábios colavam, ela ouviu com atenção, franzindo o sobrolho reflexivamente. Chegado ao fim, a alma ficou transparente, limpida como água. Depois, foi a minha vez de ouvi-la. Fixei os meus olhos nos seus grandes, dóceis e castanhos olhos meigos.
Agora, que ela acaba de me fechar a porta do seu coração nas minhas costas, sinto que vou recordar para sempre este último momento que escrevi páginas no diário da sua vida.

vitor e miguel

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Trajar

O rascunho da palavra escrita
é uma pessoa de vergonha despida.
É acordar nua e dar-se espelhada,
exibir a crua feiura restrita.

Ninguém respeitoso do bom-senso
gosta de despertar aos olhos públicos.
Tais prevenções de métodos pudicos
encaixam-se sumamente ao esboço.

As letras espreguiçam os músculos,
de seguida expelem inelutáveis excrementos
e lavam-se de um vértice ao último.

Findam com roupas de cores e aprumo.
Aroma suave do perfume fragrante,
arte final do poema galante.

Encontro

Aqui sentado de alma descansada
observo o lume aceso com fervor,
penso sóbrio no seio da lenha ateada
e oiço os estalos do fogo e do seu clamor.

Passam os pássaros rentes ao meu ouvido,
passeiam as formigas árduas nas pernas acima.
O chilrear das andorinhas num alarido
de fome, de ansias por esta escrita, pela rima.

Bebo a cerveja e observo, fumo um cigarro e vejo
que tudo o que tenho não é só o que desejo.
O estalo do lume é um grito,
um pedido à felicidade para um encontro.

Fica o encontro marcado.
Olhando para o lume ateado
aguardo aqui sentado, paciente,
a cura deste coração dormente.

26 Abril 2008, Tomar