sábado, 10 de maio de 2008

Almas Limpidas

Há pouco, sentei-me na companhia do meu Nicola. Emaranhado nas teias do pensamento, decidi que sim, ia falar-lhe! Também, não era assim tão dificil. E com sorte, talvez ela nem estivesse em casa...
Peguei no telemóvel, olhei-o por breves instantes, voltei a guardá-lo.
De súbito, um impulso invadiu-me, apetecia-me vê-la, estar com ela, dizer-lhe como me sentia depois de tudo o que vivemos juntos...Mas ao mesmo tempo, o medo de uma resposta que não queria ouvir toldava-me as
ideias.
Quando a conheci, há três anos, tive a certeza de que aquela era a mulher da minha vida. A minha dúvida baseava-se no facto de já ter sentido algo semelhante pelo menos umas quatro vezes. Desta vez, decidi tirar isso a limpo, focar-me apenas no sentimento e disserta-lo por completo, para ter realmente a certeza que não me enganava novamente. Esta decisão seria cem por cento da minha felicidade ou infortúnio. Resolvi arriscar e não me dei mal, até ontem.
Mais do que estes anos o que pesa é ter começado a vê-la como mãe dos meus futuros filhos. E é isso que vejo no fundo desta chávena de café! Ou lhe peço desculpa ou fico com o orgulho intacto....
Decidi-me, mandei o orgulho para o diabo! Estava apenas a três quarteirões da sua casa, pus-me lá em cinco minutos. Passei por um pequeno parque e as lembranças assaltaram-me. Ao chegar, o dedo permaneceu hirto e imóvel a um milimetro da campainha. Segundos depois já subia a escada e já não podia recuar.
Empurrei a porta encostada e entrei numa casa que já era minha, ou secalhar, que já deixara de ser. Ela estava linda, como sempre esteve, sentada no sofá que nós tantas vezes apelidámos de Sofá do Amor, por motivos que aqui escuso de contar. No entanto, naquele dia a sua disposição não era de amante à espera do noivo e sim de mulher traída, a que as lágrimas tornaram inflexivel.
Falei tanto tempo que os meus lábios colavam, ela ouviu com atenção, franzindo o sobrolho reflexivamente. Chegado ao fim, a alma ficou transparente, limpida como água. Depois, foi a minha vez de ouvi-la. Fixei os meus olhos nos seus grandes, dóceis e castanhos olhos meigos.
Agora, que ela acaba de me fechar a porta do seu coração nas minhas costas, sinto que vou recordar para sempre este último momento que escrevi páginas no diário da sua vida.

vitor e miguel

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