sábado, 17 de janeiro de 2009

Sem querer, sonhei contigo...

Debaixo de um vão de escada,
Refugio-me de quem me rodeia,
A vida que tenho me escapa,
O sonho alude e serpenteia.

Sento-me à mesa só,
Divago entre pensamentos meus,
Nada mais que fumo e pó...
Os meus desejos são teus.

A caneta escreve sem destino,
por entre linhas tortuosas, rasuradas
vêm-me recordações de menino,
de outros tempos... mágoas passadas!

Amores, amizades, paixões
Que outrora me fizeram zombar,
São agora sólidos aluviões,
Moralismos, grande lições
Que me ensinaram a voar!

Plano alto com as gaivotas,
Que em turbilhão parecem bailar,
Entre as minhas mãos meio mortas,
Sinto o teu coração pulsar.

Abraço-te contra meu peito,
Mato a saudade, “afago o amor”,
Sinto-me um tanto desfeito,
Por já não sentir o teu calor!

As tuas mãos geladas,
Ferem-me a alma despida,
E entre sussurros e lágrimas,
Dás-me um beijo de despedida.

Tudo o que sou morreu,
Ao ver-te partir na escuridão,
E entre os lençóis revirados,
Suores trémulos revoltados,
Acordei com um clarão.

- Sem querer, sonhei contigo...!

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Borrão

Bolas! Acabou de rebentar-me a caneta.
Borrou-me a vida toda deste momento.
Concebi uma ideia muito em concreto,
dobrei em quatro o papel branco e...ora esta!

O branco ficou todo azul da cor das palavras,
escondeu-me tudo o que estava assente.
A que veio tudo isto de repente?
Provavelmente culpa do quente de mãos minhas.

Ou então (isto sou eu a divagar),
a caneta no auge da excitação intumesceu
e, não tendo mais força do que eu,
deitou fora tudo o que lhe estava a estorvar.

O meu problema agora não é a mão suja,
mas a sujidade que eu já tinha pintado,
sob a forma de letras do pensamento forjado,
perdeu-se irreversivelmente na folha rabuja.

As criações entornadas deixam de existir,
perdem o sentido uma vez depostas.
É como falar e virar as costas.
Escrito está, impossivel repetir.

Não é grave, pelo menos foi redigido
o que era para ser expresso.
São teimosias minhas de excesso,
...azar (meu ou vosso), nunca será lido.

Vou deitar isto fora e lavar as mãos.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Falsa Vida

A minha história de vida é simples. Fui sempre alguém que viu a mentira como uma fuga para possíveis problemas mas, o mais engraçado, é que acabei sempre por encontrar mais ainda. Isso, tocou todos os aspectos da minha vida social: amizades, amores, mesmo até a nível profissional e familiar. Vivia tão profundamente nas malhas da mentira que chegava mesmo a acreditar que eram verdades incontestáveis; enfurecia-me sempre com quem me contrariava ou com quem reconhecesse que mentia descaradamente. Vivi mergulhado, completamente atafulhado em mentiras que chegavam mesmo a ser desnecessárias, era um vício fulminante. Anos a fio vivi eu assim coberto pelo negro véu da ficção, enganando outros e pior ainda, enganando-me a mim mesmo.Após uma tremenda e progressiva indagação ao mais profundo do meu imo, conclui que em vez de progredir na vida e como pessoa, apenas aniquilava todo o bem que fazia para mim e para os outros com esse vício exasperado e compulsivo que é a mentira.Além de disseminar a discórdia e muitas das vezes a separação das pessoas de quem se gosta, a mentira deixa uma mácula tremenda dentro de nós chegando mesmo, em casos extremos à depressão e ao afastamento de tudo e de todos. Vivemos fechados dentro de nós, isolados e alheados à realidade que nos circunda e, quem ousa atravessar-se no nosso caminho tratamo-lo de modo rude e mal educado, não admitindo que o erro possa ser nosso. Depois de viver no bréu da realidade fez-se uma nova luz na minha cabeça, a Omissão. É parecidíssima com a mentira em tudo, apenas com a particularidade de se esconderem os factos mais relevantes ou denunciantes; não se deturpa a verdade apenas, contorna-se. Não me podem chamar de mentiroso assim, pensei eu! Será que não? Mas, a mente prega-nos partidas e quando menos esperamos “damos com a língua nos dentes” sem querer e aí a salvação só pode ser a mentira, como é óbvio. Das duas uma, a omissão ou leva à mentira ou à confição! Se enveredarmos pela mentira temos que continuar sempre a mentir, como que um novelo que nos enleia suavemente e quando damos por nós não temos saída senão contar mesmo a verdade. O que depois trará consequências perniciosas quase sempre irreparáveis. Pois bem, posso dizer que fui assim longos anos...!Mas, como o Mundo gira e está sempre em mudança permanente as pessoas também mudam, pouco amiúde e intrincadamente mas, mudam; foi o meu caso. Certo dia acordei e disse para comigo, hoje não vou mentir. Assim foi, consegui! Passou um, passáram dois, três, quatro dias e não menti, quando dei por mim já tinham passado semanas. Foi uma vitória voltei de novo a não mentir, voltei de novo a ser verdadeiro e realista. Com a particularidade engraçada de notar bem quando outros me mentiam, via-me neles; já conhecia tão bem todos os engodos desse vício velhaco e matreiro; que só mói por dentro, prejudica a vida e os bons relacionamentos. Cheguei ao cúmulo de sorrir na cara de quem me mentia por me sentir tão bem,via-me livre de um espinho que anos a fio se cravou constantemente na minha cabeça finalmente liberei-me, pensei eu! Agora quem me mente, faz figura de “palhaço” porque eu conheço todas as manhas, os truques sou um ex-mentiroso compulsivo que vive felizmente na sua tristeza, que é o facto de já ninguém acreditar em mim. Mas sou feliz à minha maneira porque consegui vencer um vício tão prejudicial como outros tantos . No entanto, ganhei experiência sou um detéctor de mentiras ambulante. Só espero que quem mente, não o faça porque mais cedo ou mais tarde vai chegar a mesma conclusão que eu. Mentir não leva a lado algum só nos prende mais e afasta tudo o que de bom existe na vida, até a sorte! Agora a vida já me sorri outra vez, a sorte voltou e eu mudei. Só tenho tenho pena de uma coisa, de todo o tempo que perdi meio embriagado nas mãos da mentira....!

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Poeta Falso

Saio de casa em passo certo,
passo no café, bebo em dois tragos.
Não é alcool, é café e desperto.
Não como! Guardo dois guardanapos.

Conto os trocos, são alguns cêntimos.
Pago, dirijo-me para a saída.
Olho, vejo-te e não paro, chocamos.
- Desculpe, foi sem querer - dizes encolhida!

Respondo que a culpa foi minha, - não a vi!
Insistes, dizes que me pagas algo.
Aceito e sentamo-nos, não me precavi,
os guardanapos caem, fico gago

à pergunta - Para que os guardou?
Tranquilizo-me, invento que sou poeta.
Vou escrevendo daqui até onde vou.
Pedes-me um poema, e eu sem caneta...!

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Bakhar V

Fora da gruta todos esperavam boas novas já um pouco desaminados mas, confiantes que Batigo voltaria em breve.
No Forte os restantes Hidjha faziam a lide diária como de costume, tudo era harmonia e paz.
O pequenote de Batigo que resistira milagrosamente ao naufrágio crescia a olhos vistos, estava cada vez maior e mais robusto. Os seus dois anos pareciam já cinco, para a sua idade Bakhar era muito inteligente o orgulho do pai, que neste momento, se encontrava em grandes apuros encarcerado na gruta da Cascata.
O capitão começava a sentir-se preocupado com a demora excessiva de Batigo. Decidiu lançar-se numa busca desmedida com os seus homens, pois o seu melhor marinheiro não podia desaparecer assim. Era nobre e novo demais para deixar ali a sua vida! Merecia uma morte mais digna, do que simplesmente desaparecer assim no nada...
Batigo mais animado agora, tentava achar a saída daquela gruta infidável, descia escadas, subia rampas e atravessava galerias até que sentiu uma forte corrente de ar fustigar-lhe os cabelos, pensou; só pode ser uma saída. Correu desenfreadamente de cabeça vazia, apenas com uma vontade, sair dali e voltar para junto dos seus companheiros e família.
Nisto o ar tornou-se quente, e mais quente ainda, reparou que obedecia a uma cadência mas mesmo assim, Batigo corajosamente lá continuou um pouco mais cauteloso.
Entrou numa galeria cavernosamente escura, lá no fundo duas luses de cor âmbar reluziam profusamente; era um Dragão Espinhoso. O marinheiro de susto desata a correr outra vez para trás em pânico e, nem reparou que o dragão nem lhe ligára. Continuava ali imóvel, sereno, de olhos vagos meio tristes.
Batigo pensou, só pode estar ferido ou doente! Mas os dragões não adoecem cocluiu. Bem, só pode estar ferido. Aproximou-se devagar, caminhou subtilmente até ficar de caras com o dragão. Este, piscou os olhos solenemente e bafou suave adormecendo de seguida.
O marinheiro incrédulo com toda aquela passividade percorreu o majestoso dragão em busca de um ferimento.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Ano Novo

Dois mil e um, dois mil e dois, dois mil e três, dois mil e etc...
Nestas datas de final de ano e principio de outro, tendemos a fazer um balanço do ano passado e listas mentais com promessas a cumprir no ano seguinte. Este ano alterei essa forma de agir, fiz um balanço de toda a vida, foquei-me nos pontos dolorosos e nos mais felizes e recordei outros que, não sendo bons nem maus, me trouxeram até esta data, desta forma. Haveria muitos aspectos ainda para recordar mas a minha memória não guardou todos em vinte e seis anos, nem tal seria possivel. No meio disto, dois anos se sobressaem, dois mil e quatro, provavelmente o ano mais feliz até agora, ano de maior conhecimento de terras e pessoas e principalmente de consolidação de amizades que permaneceram até hoje. E mesmo as amizades desse e doutros anos que se perderam foram importantes, assim como as paixões e mesmo os ódios e inimizades que, felizmente, não foram muitos. Outro ano importante foi o passado dois mil e oito, pelo bom e pelo mau, tornou-me mais forte, mais estável, mais seguro. Foi talvez o ano mais dificil que tive e, talvez por isso, o que mais me alterou. Chegado a dois mil e nove seria a altura de eu fazer as promessas e estabelecer metas a cumprir. A verdade é que este ano tomei a decisão séria de não fazer promessas a mim próprio e muito menos a outros. O que vier virá e eu cá estarei de pé à espera, de pé porque anos houve em que esperei sentado, e quando o futuro chega e estamos sentados, ele olha-nos de cima para baixo e reduz-nos, intimida-nos. Este ano estou em pé e vou olha-lo nos olhos.
Quem habitualmente lê os meus textos talvez fique surpreendido por este ser autobiográfico, talvez seja o primeiro e último porque não sou de partilhar emoções e sentimentos e quando o faço transmito-o através das minhas personagens.
O blog Rastilho Literário está cheio de emoções que tive ao longo do ano, camufladas algumas, outras mais à tona. Umas mais sinceras, outras falsas. Como disse que não iria fazer promessas, vou começar por cumprir essa já de si “promessa”, não vou dizer que o blog durará todo o ano e que cá estarei sempre a editar pequenos textos e poemas e bla, bla, bla. Hoje publico este, amanhã se verá.
Aos leitores e leitoras fica o desejo de um excelente ano.