quarta-feira, 28 de maio de 2008

Bakhar-III

(Bakhar)III


Batigo enfrentou o desafio recolheu tudo o que era necessário e pôs mãos à obra, pegou numa comprida e grossa corda feita de lianas trançadas com calhau incrustado na ponta, fez girar a corda com a mão e esta foi prender-se a uma árvore do outro lado mesmo à beira da cascata, desceu a pique sobre a corda com um pequeno tronco em forma de “V”. Do outro lado o Capitão e os camaradas observavam-no orgulhosos e ansiosos.
O detesmido marinheiro atravessou o forte curso de água empunhando o tronco na mão, olhou os companheiros mais uma vez e entrou naquele buraco cavernal.
Um cheiro húmido, abafado com pequenas brisas cálidas, arepiavam-lhe o corpo molhado que tremia de vez em quando, para afastar os pensamentos mais receosos.
Archotes percorriam todo o corredor que parecia ser interminável, um suave aroma a queimado denunciavam que tinham sido utilizados à relativamente pouco tempo. Sempre de tronco em riste caminhava docilmente pé-ante-pé, sentia agora uma violenta corrente de ar bafejar-lhe o couro, era tão ventosa que caminhava com custo.
Deparou-se com uma galería mergulhada no bréu, a luz diurna ali não penetrava. Pegou no archote mais próximo e ateou-lhe fogo com fósforos que estavam mesmo por ali, a luz jorrou pingando pedaços incandescentes para o chão, uma escadaria estendeu-se quase até o olhar se perder, Batigo olhou para trás pensando nos camaradas que o esperavam com novidades mas, irredutível sacudiu a cabeça afastando os pensamentos e a sensibilidade humana, e enfrentou a escadaria de archote erguido e tronco em punho sempre receoso de perigos eminentes. Aquela calmaria excitava-o, era fora do normal uma gruta não possuir nada absolutamente, nada terreno, nada espiritual!
Mas ele lá continuou com passos curtos, andou e andou até que sentiu a terra tremer...

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Sussurro

No meio de todo este arvoredo
alguém me sussurra ao ouvido.
-Vai em frente, não tenhas medo,
não suponhas nada como perdido.

Esta frase dita de passagem
pode parecer descabida.
É somente fruto da folhagem
mas foi por mim entendida.

Aqui, onde o respirar é terno,
sinto-me tão vulnerável
a procurar um futuro eterno,
com tudo de agradável.

Sai-me doce esta escrita
e sem dificuldade.
É sintra faminta
da minha felicidade.

Tudo assim devia ser,
de grande simplicidade.
Talvez aprenda a escrever
com maior serenidade.

É paz que sinto neste momento,
a minha alma ri-se feliz.
Oiço os pássaros, oiço o vento
e o que a serra me diz.

-Vai em frente, não tenhas medo...

Sintra, 25 de Maio de 2008

domingo, 25 de maio de 2008

Homini Liberum

Sou homem de coração liberto,
Vejo uma Humanidade pura,
Presa na Liberdade escura,
À procura do destino certo.

A boa vida é só frustração,
Uma alma presa à de um irmão,
Que busca uma vaga Liberdade,
Uma fraternidade…Libertação!

Sou um homem, em muito liberal,
Aceito a força da revolução,
Neste mundo há tanta coisa mal,

Quanta amargura, quanto Sal…
Há quem contenha o mundo na Mão,
Há quem dê a vida por um “Irmão”…!

sábado, 24 de maio de 2008

Sintra

Falha-me crassamente a encrespada memória
à passagem curvilínea de conjectura tão rectilínia.
É tal a emboscada que fico colérico de burrice.
Achar eu em Sintra a iluminação artífice.

Sempre a mesma espertinha esparrela.
Zomba de mim, Senhora de beleza donzela,
ao fazer-me crer, e conseguir, que inspira!
Carnalmente lá, o que há me tira.

Era intuito deitar a cabeça no travesseiro,
fazer-se luz dentro, noite ou dia!
Sequer pouco, sequer nada, nele inteiro.
A iluminação surge na presença perfídia.

Só na minha casa em Sintra sem o ser,
com os olhos cerrados, acima do travesseiro
de Sintra que não é, se torna ideável o conceber.

11/02/2005

Fome

O aperitivo que bebo a fome
enleado me concerne apetite
porquanto bebo que ela some
e o digestivo sobe a pique.

Essa ânsia de o gerar
em tempo finda cedo.
Já sem a fome a pensar
no poema definido.

18/01/2005

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Cruz

Abrem-se tréguas em água agitada
neste arrepio da espinha à caneta.
Que confusão, na vista a manada,
hipérbatos de alma nua de assenta.

Levanta-se agora a dita sem lógica
ao ver passar o pastor e suas cabras.
Perdoe-se tinta caída já seca
ao vislumbre do mar nas velas!

De onde vem, onda que passa ?
Na mão minha o criador,
talvez para onde vai manada e pastor.
De rubor já vestida a ardente insubmissa.

Atravessa-lhe a ideia de vileza,
quando vê cornos com destreza
na tinta dos panos da caravela.
Lá vai água e o pastor com ela!

de 15/01/2005

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Bakhar...II

II


Depois de um tremendo esforço muscular dos intrépidos marinheiros o território estava circunscrito. Uns bem proporcionados cem héctares servirão de Forte contra a possíveis invasores.
O dia passára sem grandes sobressaltos, apenas a fúria de uma mãe Javali que serviu de jantar, assustou a minoritária população.
O jantar decorreu de forma pacata, entre goles de vinho e nacos de carne acompanhados de pão, servidos diante uma enorme fogueira; histórias de circum-navegação foram contadas com grande entusiasmo, perante uma audiência atenta e alegre por estarem vivos para as ouvirem...
Depois de satisfeitos; pachorrentos lá iniciaram a custo as místicas danças tribais que afugentaram uns e deleitaram outros.
A noite ia já alta quando o eleito Capitão por unanimidade deu a ordem de recolher.
A fogueira adormecia coberta pelo céu estrelado, equanto os sons nocturnos da selva tropical embalavam os Hidjha mais espertos.
Durante a madrugada, já quase ao raiar do dia, uns urros estridentes e horripilantes acordaram todos os colonos, que rapidamente acorreram às armas; o ruído era tão intenso que causava calafrios olhavam-se estupefactos, alarmados e ninguém conseguia decifrar que animal seria, imaginávam já monstros corníferos ou demónios infernais.
Escondidos num subterrâneo propositadamente construido para eventualidades deste tipo ou outras de maior envergadura assinadas pelas Mãe Natureza, lá permaneceram até se sentirem em segurança. Quase duas horas durarm aqueles berros petrificantes...
O Sol já se estendia, o calor começava a irradiar e o Capitão decidiu averiguar de onde provinham aqueles estranhos ruídos, seleccionou um pequeno grupo de homens e partiram.
O caminho pela montanha era tortuoso e cheio de gomos, o verde cobria-os; com catanadas desbravavam caminho. Em fila indiana o Capitão dirigia o pequeno contingente, a subida parecia evidente, devido ao facto de, quanto maior a altitude, melhor o som se propagava. O chefe dos Hidjha estava convicto que os urros provinham da montanha que dormia encostada a uma larga cascata bravia.
Subiram quase toda a montanha e estavam no pico da cascata só que do lado oposto, quando notaram um enorme buraco através da água transparente.
Será uma gruta!? – Pensaram.
O capitão escolheu o seu melhor marinheiro (Batigo) para ir averiguar.

Inconformado

Há dias em que nada apetece,
O simples frio no rosto,
Serve de reconforto,
Enquanto a alma aquece!

O aroma quente a café,
Bafeja o ar impuro,
E olhando o breve futuro,
Temos o presente mesmo ao pé.

De espírito bem feliz,
Devido à vaga paixão,
A verdade é que se diz;
Pensa melhor coração!

Tudo se deseja nesta vida,
Fugindo mesmo à verdade,
E a verdade é que à saída,
Há sempre alguém da cidade…!

Degredo

Possuo num segredo o teu sorriso,
neste fim do mundo sem fim.
Meu degredo onde perdi o siso
a pensar em ti assim.

Nada mais tenho que seja teu
e vivo feliz neste nada ter.
Tudo o que tenho é meu,
o teu sorriso no meu entardecer.

A minha vida anoitece
num céu de sonhos sem estrelas,
tudo o que fui desaparece
no escuro, nem sol, nem velas.

E sentado sobrevivo sem ver.
Mesmo prostrado o futuro
teimo em não perder
o teu sorriso, no escuro.

sábado, 17 de maio de 2008

Simplicidade

Adormeci...
sonhei com a felicidade...
Assim, tão simples como isto.
Adormeci...
Sonhei com a felicidade...
Com a minha...
Assim, tão simples como isto....
e acordei.
Assim, tão simples como isto.

Vida

I
Escrevo e aprendo,
e vivo,
e volto a escrever,
o escrever ensina-me a vida,
a vida leva-me a escrever.

II
Vivo esta vida, verdadeira.
Vivo-a no falso de mim,
a sonhar com vidas que não tenho.
Viver outras vidas a sonhar,
não é viver também?
Não é uma forma de vida?
A minha vida é esta,com todas as vidas, que sonho, dentro.
Eu sou esse,
homem das sete vidas.

III
A minha vida é um livro,
ao qual falta a página da felicidade.
Deus arrancou essa página.
As outras...escrevi-as eu!

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Pai

Pai, quantas vezes te desiludi,
E, quantas mais não te escutei,
Sei que mil vezes errei,
Por não ter ido por ti.

Só me dás o que realmente mereço,
E o que não mereço também,
O teu amor não tem preço,
Como tu não há ninguém!

Muito esperas-te por mim,
Ansioso por me tocar,
E, quando ouviste chorar,
Era eu que nascia enfim!

Pegaste-me de olhos molhados,
Não contendo a alegria,
E entre beijos, nos teus braços,
Eu ali para ti sorria…!

Se pedaço de ti sou eu,
Tu pedaço de mim és também,
Se há amor maior que o teu,
Só mesmo o amor de Mãe.

Por mim vais viver sempre,
Enquanto vivo eu estiver,
Viverás na minha mente,
Para me ajudares a “vencer”.

Obrigado, pelo meu belo ser,
Tu és um grande orgulho,
Podes estar certo e seguro,
Que te vou amar até morrer!

terça-feira, 13 de maio de 2008

Pego da Água Alta

Ribeiro que corres diante meus olhos!
Aqui e ali cegas-me e não te vejo!
Passas tão docilmente como um beijo,
És fruto de sonhos e desejo…

A realidade é toda tua, percorres a mata nua
…Diluída na civilização!
Na realidade crua a tua verdade perdura,
Sobre a palma da minha mão.

Mestre de rios, de mares, de oceanos;
Caminhas por todo o Mundo, tudo concebes,
Além, de quão pensamentos estranhos,
Fluís mas não te percebes.

Oh Ribeiro de tortuosas águas!
Que passam, e que já não passam…
Anseias por grandes mares,
E, quando és livre te amordaçam!

A tua vida é curta, sazonal,
Dura apenas a Invernia,
Casto permaneces, espiritual,
És som de Mar…és sinfonia!

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Comboio

Esqueci-me do Discman, pensou no exacto momento em que embarcou. O comboio começou a andar,como se só estivesse à sua espera. Na trepidação quase caía. Tirou a mala que trazia nas costas,cuspiu-a com as mãos para cima dos bancos e sentou-se de costas para o destino.Eram três da tarde, previu que por volta das cinco e meia chegaria à Gare de Santa Apolónia.Estava na última carruagem, e seria só para ele não fosse o casal de velhos sentados atrás.Afonso previu que fossem velhos pelo tom quente das suas vozes, porque nem sequer os viu.Vivia em constante alheamento do mundo, simplesmente porque nunca amara.A sua única realidade era a própria imaginação. Essa indiferença deixava-o de mau humor eazedo até com os amigos. Estes desprezaram-no e a namorada esqueceu-se dele nos braços de outro.Achou, então, que deveria tentar um novo começo. Lisboa, terra em que nunca estivera, pareceu-lheo sitio certo.O chiar de ferro a beijar-se chamou-lhe a atenção, olhou pela janela, viu que estavam parados numaterra a pouco mais de trinta minutos do local de partida. Entrou um homem com barba de três diase uma mulher com uma criança ao colo. Apesar dos lugares estarem quase todos vagos, entenderamque deveriam sentar-se junto de Afonso. O homem pediu-lhe, gentilmente, que tirasse a mochila esentou-se a seu lado. A mulher e a criança sentaram-se nos lugares de frente para ele.Foi o suficiente para o deixar irritado. Ainda para mais teve a certeza que o bebé adormecido,assim que acordasse, começaria a berrar.A viagem prosseguiu. Minutos depois, vinda de outra carruagem, apareceu outra inquilina.Acomodou-se nos bancos opostos, mas, de frente para Afonso. No segundo em que se sentouolhou para ele, que pressentindo-a virou o coração na direcção dos seus olhos.Esse olhar e o cheiro a jasmins, seria a última recordação no último momento da sua vida!Os minutos seguintes resumem-se ao esforço sobre-humano de não olharem um para o outro, porque,cada vez que o faziam, os olhares cruzavam-se envergonhados, como se esse sentido tivesse acapacidade de um outro, e falasse, e gritasse! Por várias vezes, em diferentes fracções de segundo,Afonso achou que deveria fazer por conhecê-la e por outras tantas vezes, nas mesmas fracções desegundo, não teve coragem. Assim ficaram naquele Inter-cidades, perdido por aldeias do litoral,durante pouco mais de uma hora. Até que o comboio voltou a chiar e a parar. A viagem chegara ao fim,mas não estavam em S. Apolónia, nem perto de Lisboa. A rapariga levantou-se, olhou uma última vezpara Afonso, sorriu-lhe e dirigiu-se para a saída. Ele permaneceu inerte, sem tomar a sua primeiradecisão corajosa, vendo-a já no lado de fora.Instantes depois, um comboio desgovernado, na mesma linha e na mesma direcção, embateu noque estava parado.E o bebé nunca mais chorou.

domingo, 11 de maio de 2008

Paupérrimo

Tu que andas descalço,
De pés feridos caminhas,
Sempre em sobressalto,
Por “Quelhas” estreitinhas!

Mil vezes olhas para trás,
Para veres se és seguido,
Procuras uma breve Paz,
Para o teu sono sumido.

Sobes escadas, desces ruas,
Segues o doce aroma a pasto,
Perdido nas vielas escuras,
Encontras um novo rasto.

Essa tua vidinha consome-te,
Sempre com fome, sem dinheiro,
Pensas ter o Mundo inteiro,
Mas, a miséria persegue-te.

Olhas o chão, e que vês?
Teus pés molhados e feridos,
Calosos e consumidos,
Por uma vida de pez.

Tu és feito de desgosto,
És marginal, rejeitado,
De pés, corpo e rosto,
(…) Deformado e mal-encarado!

Oh, pobre alma sequiosa,
Que fumas a beata do outro,
Que caminhas na Vida desgostosa,
E, que não tens onde cair morto!

Tu que ouves o “tic-tac” dos ponteiros,
E que observas o tempo passando,
Vais gozando com os porteiros,
Que à porta vão conversando.

Tu que és como um rato,
Pequeno, rápido, hábil, ,
Tens uma alma dócil e frágil,
Porque te escondes no “mato”?

Tu que uivas à Lua,
Como um Lobo solitário,
Não tens espírito precário,
E que fazes de casa a Rua,

Ouve! Ouve as minhas palavras,
Que não se esqueceram de ti
Vai-te aquecendo nas boas brasas,
Enquanto esperas a Brisa do Fim!

Amor dúbio

Quando o amor nos parece um tanto vago,
É quando ganha um sabor mais especial,
Nós, bebemo-lo de um só trago,
Para que nunca nos saiba mal!

O seu sabor meio acre,
De um doce amargo inconcebível,
Sela beijos com lacre,
Tornando-o invencível!

Nada pode contra ao amor,
Pois, sairá sempre vitorioso,
Há que o ache meio jocoso,
Mas, é um verdadeiro gladiador.

Mesmo a distância não é barreira,
Ele existe em toda a parte,
E, não é preciso saber da arte,
Até o mais afoito se queima!

O amor existe. Olha para ti,
Ama-te acima de tudo,
E, se vires mesmo lá no fundo,
O amor-próprio não tem fim…

O teu rosto…um sorriso esboçado,
Vive sempre na mira do futuro,
O amor pode estar mesmo ao lado,
Mas, também se esvanece num segundo…!

Tabaco

Vontade que me consomes,
Vício que me destróis,
És cativo, és Liberdade,
És somente vontade…
E, na verdade não dóis!

Cada vez que te aspiro,
A minha alma sôfrega,
Exála puro prazer,
Adoro ver-te esvanecer,
Numa lucidez mouca.

A noite respira o teu odor,
Os boémios te prestam culto,
No bréu não passas de vulto,
Quem te aspira sente sabor,
E, lágrimas brotam de ardor…

Tudo se torna confuso,
Se no ar és abundante,
Para uns és errante,
Para outros és obtuso.

Seguramos-te entre os dedos,
Numa ignorância tal,
Superas todos os medos,
Fazes parte de segredos…
Aspiramos todo o teu mal!

A outros vícios te unes,
Dás confiança, acalmas.
Pensamos ser-te imunes,
De doenças tu nos munes,
E apaziguas boas almas.

O silêncio é teu aliado,
Atrás de um vem sempre,
Mais um e outro Cigarro,
E a saúde nunca mente,
Tentação imbecil e demente,
Que começa com catarro,
E termina dolorosamente!

Não tens sabor definido,
E a tantos tens cativo…!

Bakhar

I

O nevoeiro era denso e fumegante, espesso como o sargaço. Navegava-se numa rota sem destino, as ondas iam embalando o bréu nocturno num som de bravura. A certa altura, um embate sacudiu toda a embarcação o casco cedera e a água era já abundante.
O Comandante apregoava ordens sem nexo; ora bombordo, ora estibordo. Dominados pelo pânico os marinheiros corriam esbaforidos pelo convés já encharcado, a morte estava para muitos eminente, senão mesmo, para todos.
Contra uns rochedos escarpados vindos do nada a caravela despedaçava-se como papel ensopado...
Grandes pedaços de casco flutuavam já enrolados pelas espumosas e iradas ondas e com eles, tripulantes também. Os Hidjha estavam prestes a perderem-se para sempre na fúria abissal do grandioso Pacífico.
...O Sol erguera-se finalmente e com ele a pouca tripulação que se salvára também, atordoados ainda pela terrível noite que passaram em alto mar entreolharam-se e agarraram a fina e brilhante areia como se jamais a deixassem fugir. Abraçaram-se depois infantilmente, entre risos e gritos como se quisessem dizer; estamos vivos – rir e gritar são sinónimos disso.
Agora já recompostos sacudiam-se frenéticamente tentando tirar a areia que molhada ainda esfoliava o corpo. Olharam em redor e pensaram, será uma ilha?!”Parece o paraíso...!”
Os 10 homens e as 2 mulheres que sobreviveram ao naufrágio decidiram ali mesmo que jámais voltariam a enfrentar o mar, navegar nunca mais!
Começaram por explorar o terreno, sempre pela margem para ver se sería mesmo uma ilha! Fizeram uma enorme marca no areal da praia onde naufragaram e pacientemente começaram a caminhar.
Para seu espanto repararam que alguns mantimentos tinham atracado ali mesmo, Juntaram todos ao pé de uma pequena Palmeira e prosseguiram caminho...
Depois de uma tarde inteira a caminhar notaram que tinham chegado ao ponto de partida. Era uma ilha deserta possívelmente, como não tinham avistado gente, deram-lhe o nome de Bakhar, o nome do bébé que milagrosamente também se salvára do terrível naufrágio.
Os famosos navegadores Hidjha tinham descoberto uma paridisíaca ilha deserta no Sul do Pacífico.
Anoitecera entretanto...O clarão do Sol ainda permanecia esmorecido algures no Horizonte longínquo!
O frio nocturno cobria toda a ilha com uma densa marzia, juntaram uns troncos por ali perdidos e fizeram uma fogueira para se aconchegarem. Dormiram profundamente, cansados ainda do susto e do dia que passaram.
A manhã chegou, as aves tropicais aclamavam estridentemente o nascer do dia, a fogueira jazia com um fino fio de fumo denunciante.
Acordaram a custo, o corpo doía-lhes mas, mesmo assim, os homens colectavam troncos para iniciarem algumas construções rudimentares e deliniarem assim território, enquanto que as duas mulheres preparavam os mantimentos que haviam dado à praia, e iam servindo pequenas porções de comida a todos os Hidjha.

A Literatura não è um fim é um começo...

O sabor quente da escrita, sempre fervilhou na mente da humanidade.
A inspiração nem sempre era companheira do escritor mas a verdade é que sempre se escreveu, grandes obras de arte por sinal, de genialidade quase divina.
Com a inevitável evolução que se dispersou em todos os sentidos, também a escrita e a literatura sofreram alterações significativas. Os hábitos de leitura foram decaíndo e o gosto de escrever tem ficado “no fundo dessa tal gaveta...!”
Com isto, a sociedade tem sofrido bastante porque caíu-se numa doce e saborosa ignorância quase aceite por todos e, os que estão contra são obrigados a redimirem-se; para quê erguer a voz contra a “cortante Nortada” de um povo que sempre se habituou a ver “eclipeses”...
Na verdade, a Língua Portuguesa é tão rica mas, não consegue vencer porque quem a promove é tão pobre de espírito!
Se isso depender de alguém e, se esse alguém formos nós, jamais deixaremos que nos considerem uns paupérrimos ignorantes que nem na economia nem em qulaquer outra vertente conseguimos ter êxito , a não ser nas desgraças, claro.
A Literatura precisa de alguém que a cultive e que, não veja só os sifrões à frente!
Dar o corpo ao manifesto por uma causa tão nobre como é Língua Portugesa, não é um martírio mas sim um enorme prazer! É pena que nem todos pensem assim!
Os jovens de hoje não sabem o prazer que dá abrir um livro, defesfolhá-lo, sentir todo aquele intenso aroma que emana a antiguidade mas, escrito para a eternidade. Com um valor cultural incalculável, pago a peso de ouro por muitos, outros deram o que tinham e o que não tinham, a vida inclusivé para, ainda hoje podermos ler coisas que nunca imaginámos terem acontecido.
- Palavras o vento as leva mas, o papel as detem!
Foi uma premissa pela qual sempre me regi e não me tenho saído mal.
A Burocracia é necessária sempre que não há confiança. Actualmente seria impensável viver sem papéis, eles, são provas irrefutáveis e incontestáveis quando se vive numa sociedade como a nossa e, se lida com pessoas que por vezes desejaríamos jamais ter-mos conhecido.
Aqui, fica um Rastilho para contaminar essas mentes anti-literárias, que gostam de viver no seio da sensaboria!!!

Lisboa acorda e grita

Dias cinzentos de tão pura languidez,
São quentes, abafados pela poluição que vês.

Os Cacilheiros partem repletos e ondulantes,
As águas já não brilham como diamantes;

O Tejo impuro deixa mácula e tristeza,
Assim tratamos nós a nossa Mãe Natureza.

Lisboa acorda e grita, sufocada aos sete Ventos,
Assim são os “úteis stressantes” e, barulhentos,

Todo este semblante tão insano e grosseiro,
Não se vê só em Lisboa mas, também, no mundo inteiro.

Vivemos numa nuvem densa,
De gases e lixeira suspensa!

Nascemos assim, “Puros num Mundo Podre”,
Apostamos no futuro esperando que ele logre.

Para este mundo ser mais civilizado e casto,
É preciso limpar, reciclar e não perder o rasto…!

sábado, 10 de maio de 2008

Almas Limpidas

Há pouco, sentei-me na companhia do meu Nicola. Emaranhado nas teias do pensamento, decidi que sim, ia falar-lhe! Também, não era assim tão dificil. E com sorte, talvez ela nem estivesse em casa...
Peguei no telemóvel, olhei-o por breves instantes, voltei a guardá-lo.
De súbito, um impulso invadiu-me, apetecia-me vê-la, estar com ela, dizer-lhe como me sentia depois de tudo o que vivemos juntos...Mas ao mesmo tempo, o medo de uma resposta que não queria ouvir toldava-me as
ideias.
Quando a conheci, há três anos, tive a certeza de que aquela era a mulher da minha vida. A minha dúvida baseava-se no facto de já ter sentido algo semelhante pelo menos umas quatro vezes. Desta vez, decidi tirar isso a limpo, focar-me apenas no sentimento e disserta-lo por completo, para ter realmente a certeza que não me enganava novamente. Esta decisão seria cem por cento da minha felicidade ou infortúnio. Resolvi arriscar e não me dei mal, até ontem.
Mais do que estes anos o que pesa é ter começado a vê-la como mãe dos meus futuros filhos. E é isso que vejo no fundo desta chávena de café! Ou lhe peço desculpa ou fico com o orgulho intacto....
Decidi-me, mandei o orgulho para o diabo! Estava apenas a três quarteirões da sua casa, pus-me lá em cinco minutos. Passei por um pequeno parque e as lembranças assaltaram-me. Ao chegar, o dedo permaneceu hirto e imóvel a um milimetro da campainha. Segundos depois já subia a escada e já não podia recuar.
Empurrei a porta encostada e entrei numa casa que já era minha, ou secalhar, que já deixara de ser. Ela estava linda, como sempre esteve, sentada no sofá que nós tantas vezes apelidámos de Sofá do Amor, por motivos que aqui escuso de contar. No entanto, naquele dia a sua disposição não era de amante à espera do noivo e sim de mulher traída, a que as lágrimas tornaram inflexivel.
Falei tanto tempo que os meus lábios colavam, ela ouviu com atenção, franzindo o sobrolho reflexivamente. Chegado ao fim, a alma ficou transparente, limpida como água. Depois, foi a minha vez de ouvi-la. Fixei os meus olhos nos seus grandes, dóceis e castanhos olhos meigos.
Agora, que ela acaba de me fechar a porta do seu coração nas minhas costas, sinto que vou recordar para sempre este último momento que escrevi páginas no diário da sua vida.

vitor e miguel

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Trajar

O rascunho da palavra escrita
é uma pessoa de vergonha despida.
É acordar nua e dar-se espelhada,
exibir a crua feiura restrita.

Ninguém respeitoso do bom-senso
gosta de despertar aos olhos públicos.
Tais prevenções de métodos pudicos
encaixam-se sumamente ao esboço.

As letras espreguiçam os músculos,
de seguida expelem inelutáveis excrementos
e lavam-se de um vértice ao último.

Findam com roupas de cores e aprumo.
Aroma suave do perfume fragrante,
arte final do poema galante.

Encontro

Aqui sentado de alma descansada
observo o lume aceso com fervor,
penso sóbrio no seio da lenha ateada
e oiço os estalos do fogo e do seu clamor.

Passam os pássaros rentes ao meu ouvido,
passeiam as formigas árduas nas pernas acima.
O chilrear das andorinhas num alarido
de fome, de ansias por esta escrita, pela rima.

Bebo a cerveja e observo, fumo um cigarro e vejo
que tudo o que tenho não é só o que desejo.
O estalo do lume é um grito,
um pedido à felicidade para um encontro.

Fica o encontro marcado.
Olhando para o lume ateado
aguardo aqui sentado, paciente,
a cura deste coração dormente.

26 Abril 2008, Tomar