sábado, 20 de dezembro de 2008

Exórdium

Há momentos a sós,
em que o fastio farta!
O Mundo pesa sobre nós,
e o pensamento mata!

A dor rasga a alma,
mas o Amor reconforta,
a Música acalma...
e se abre uma nova porta!

O dia passa devagar,
a brisa voga sobre mim,
o Sol aquece por dentro
e a Felicidade é um sem fim...

Momentos de terna languidez,
em que existo.
E, o que sou e sinto,
Tu não vês!

Viajo, não passeio
e o Mundo é meu,
tudo é lindo e feio,
e, o que sou é Teu!

A Vida é mesmo assim...
Um Arco-íris de sensações,
tudo o que possuo em mim,
são alegrias, tristezas -recordações.

- Mas, o que me faz viver és Tu!

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Kátharsis

A Felicidade somos nós, o Paraíso existe no nosso interior. Temos a possibilidade de mudarmos a nossa vida apenas com gestos simples e com pequenas escolhas.
A maior parte da vezes enveredamos pelo negativismo e damos azo a depressões desnecessárias!
Olhar o Céu, ver a chuva cair, ver as crianças brincar, os pássaros voar...sorrir para a vida. Sentir a essência de viver, de estar e de ser vivo. Isso, é maviosa felicidade!
Tudo nesta vida é fugaz e volátil, tudo o que vivemos hoje é impossivel de reatar amanhã. As novas experiências são de aproveitar e para viver ao máximo; para que um dia ao olharmos para trás, sentirmos a saudade do prazer vivido e não a desilusão por não termos tirado partido da melhor forma.
Por isso, tudo o que fizeres faz bem logo à 1ª, escusas de fazer duas ou mais vezes e põe sempre um pouco de ti em tudo o que fazes!
Vê a vida como uma oportunidade de mostrar o quão grandioso tu és e o quanto de bom podes oferecer aos que te rodeiam; presenteia-os sempre com a tua alegria e boa disposição, tenta ser um dos melhores, senão mesmo o melhor e prepara-te para as responsabilidades que disso possam surgir. Melhora-te a ti próprio, cuida de ti – o teu corpo é um Templo de “Deus”. Não deixes que o templo se transforme num túmulo verdete e corroído ou num terreno baldio. Deita-te sempre com o pensamento de dever cumprido, e deslumbra os outros com a tua genialidade e o facto de seres sempre genuíno em todas as tuas acções. Pensa sempre um pouco antes de falar. Decide sempre por ti. Sê um ponderado nato!

- Acima de tudo, Ama-te e logo a seguir ama os outros e só depois ama os prazeres da vida...


- Sê o Paraíso de alguém!

domingo, 14 de dezembro de 2008

A lição

João estava a aprender da pior maneira o que a vida lhe podia ensinar. Uma lição dolorosa por ser final.
A morte deveria aparecer-nos de vez em quando e pregar-nos partidas e depois ir-se embora e dizer que tão depressa não voltava. Só a proximidade com a morte nos traz respeito pela vida.
A morte é o descanso que João não queria. Se ao menos fizesse um balanço positivo da vida que tinha tido, aceitaria melhor essa fatalidade. Sabia que fora ele que falhara, mas não aceitava de bom grado ser o responsável único, principalmente em situações que não controlava.
Ainda menino fora criado em casa da avó, sem amigos rapazes, o que fez com que perdesse os modos abrutalhados próprios dessas idades. As brincadeiras parvas, as brincadeiras com carrinhos, guerras com soldadinhos de borracha ou plástico, nada disso existiu na sua infância. O que existiu foi uma amiga. Dos 5 aos 7 anos João teve uma amiga inseparável, com a qual brincava, ria, chorava. Tornou-se atento, respeitador, amável. Teve com ela a primeira percepção do que era o sexo oposto, sem saber que estava a ter essa percepção. Teve com ela a primeira erecção sexual sem saber que estava a ter uma erecção sexual. Foi o seu primeiro grande amor sem saber que o era, dos 5 aos 7 anos, na idade das descobertas inocentes descobriu a mulher, descobriu o amor. E esse facto, de que ele não foi responsável directo, marcar-lhe-ia toda a vida. Separou-se dela quando ambos entraram para o ensino primário em escolas separadas. Foi a primeira perda, a primeira desilusão. Já na primária teve amizades maduras de mais para a idade. Teve namoradas que o queriam beijar na boca atrás do pavilhão, mas que ele recusava por ser respeitador. Namoradas e amizades que lhe duraram até à 4ª classe quando se voltou a separar. João só tinha 11 anos e estava a recomeçar uma vida diferente pela terceira vez, ele que se habituara ao conforto e à estabilidade de uma só amizade, de uma rapariga que o destino colocou a viver perto da casa da avó.
Preparatória. Novamente uma amizade com a força da primeira. A primeira paixão que teve com a real percepção de que estava apaixonado. Primeira nega. Chorou todo o dia com uma tristeza e desilusão que aos 11 anos de idade era no mínimo estranha.
Outro ano se passou, nova mudança de escola. Novos amigos. Desta vez amigos para a vida. João estava com 13 anos quando se apaixonou de novo. Enquanto os amigos preferiam jogar à bola e andar à porrada uns com os outros, ele queria estar junto de quem gostava, queria dizer-lhe o que sentia. Queria conversar, passear. E os amigos gritavam-lhe, “deixa-a estar, anda jogar à bola”, e ele não ia. Durou-lhe dois anos esse amor, sem ser correspondido.Quando chegou à idade de começar a frequentar bares e discotecas ía para passar um bom bocado com os amigos. E os mesmos que antes lhe diziam “deixa-a estar, anda jogar à bola”, diziam-lhe agora para se fazer às mulheres que por ali andavam, “tens de curtir a vida”.Mas ele não era assim. Ele foi o rapaz que entre os 5 e os 7 anos teve só uma amiga. E era isso que ele queria, ansiava pelo grande amor, ansiava de novo por uma grande amiga, brincar com ela, chorar com ela, rir com ela, acarinha-la e ser acarinhado. Mas esse grande amor teimava em não aparecer.
Assim passo a passo a vida foi-se desenhando. Até ao dia de hoje. Lá fora chovia e João vinha a pensar no quanto estava apaixonado. Talvez fosse esta a mulher da sua vida. E enquanto este pensamento lhe toldava todos os outros, passou por muitas mulheres que poderiam ser o seu grande amor, uma delas poderia ser a mulher da sua vida. Mas ele não via nenhuma porque só pensava numa. E agora que estava ali sentado em frente ao médico, deu-se conta que desde os 5 anos que tinha tido sempre um amor, uma mulher que o cegava e que não o deixava ver as outras. E que essa cegueira provavelmente o fez perder a vida. Tinha só vinte e três anos e o médico acabara de dizer-lhe que tinha cancro em fase avançada. Naquele momento João fez o balanço de toda a vida e o balanço foi evidentemente negativo. Só perante aquela crise fatal percebeu que o grande amor não é o que se procura, é o que se acha.
“ Se ao menos eu pudesse voltar atrás, encarava a vida de outra forma, lutaria de outra forma, lidaria de outra maneira com as pessoas, com as situações...”
Trimmmm. Era o despertador. Demorou alguns segundos a perceber que estava a ter um pesadelo. Levantou-se então, para a vida.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Crónica do Não Romance

Nunca consegui escrever romances. Não tenho tempo. Mesmo em todas as horas, como as de agora, não tenho tempo. Estou aqui sentado a escrever isto, há pouco estive ali a olhar para o ar sem fazer nada. E dentro deste nada fazer, não me sobra tempo para escrever romances. Falta de ideias não são, porque as tenho. Falta de meios também não. Uma caneta, um caderno ou computador sem necessidade nem de caneta nem de caderno. Talvez falta de coragem. Vidas, criar-lhes ambiente, relações, problemas, e tudo o mais que uma vida pede. Ser Deus não é fácil, talvez seja por isso que não acredito Nele. Criar tudo o que existe e que conheço, mesmo o que não conheço mas sei que existe. Como foi possivel? Com certeza Deus tinha uma grande caderno e uma caneta com tinta que nunca mais acabava, e também um revisor distraído. Criar vidas! O que eu queria era ser pai. Sinto-o agora como nunca senti antes. Ser pai. Chegar a casa e beijar a mulher e os filhos e dizer-lhes que façam os trabalhos de casa e que se precisarem de ajuda me chamem, "estou ali a escrever um romance". Mas, como pode isto acontecer se não consigo escrever um romance! Um livro, uma árvore, um filho. E eu, nem livro, nem árvore, nem filho. Que merda de homem sou? A merda de um homem que escreve poemas e contos e peças de teatro e os manda para a gaveta e nunca mais os vê. Escrevo poemas e não sou poeta. Então o que sou? O homem que chega a casa onde não estão mulher nem filhos e que escreve um poema, se até isso lhe pode ser chamado. Escreve a porra de um poema porque não consegue escrever nada que não tenha fim nesse mesmo dia. Talvez um dia escreva um romance sem fim, sobre um homem que chega a casa e beija a mulher e os filhos e lhes diga que façam os trabalhos de casa e que se precisarem de ajuda o chamem. "Estou ali a escrever um romance". Um homem como eu, com o meu nome e que se vista como eu, de corpo e alma.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Viagens

I

Maquinista de comboio novo
que circula em velhos carris.
Desgastado por paragens sucessivas,
paragens de esperança,
apeadeiros de espectativa.
Estações cheias de nada,
falsas realizações de vida.
Paro o comboio
sabendo que não há nada,
não há que transportar.
Mas paro,
e de cada vez que o faço
é para os meus sonhos saírem,
para apear as minhas ilusões.
Fecho as portas,
logo a seguir ao coração e parto.
E entre uma e outra paragem
iludo-me outra vez.
Torno a parar, a sofrer, a partir.
Parar, sofrer, partir,
parar, sofrer, partir,
pouca-terra, pouca-terra,
muitas ilusões, poucas realizações,
pouca-terra, pouca-terra,
parar, sofrer, partir.

II

Antes as insónias
que os sonhos.

III

Compra-se bilhete
de ida.
Destino, Felicidade.
Sem olhar a custos.
Impera a urgência.
É necessário repor a verdade,
fui enganado
quando me deram este bilhete,
era só de volta.
Volta sem Ida.
Para que quero eu
um bilhete de volta
da Felicidade
sem nunca lá ter ido?
Mesmo oferecido,
para o caralho com ele.
Não quero mais Voltar,
quero Ir.
Compra-se bilhete
de Ida
para a Felicidade.