domingo, 22 de fevereiro de 2009

Maré de azar

A vida corre-me nas veias,
A paixão e o amor perseguem-me,
A sorte deixou-me aquém,
Estou sozinho, mas sou de alguém!

Alguém que me despreza e me ama,
Me deixa perdido na cama...
Enrolado em recordações,
Embalado em canções
Que já não escuto.

Estou triste mas sou feliz,
Apesar das lamentações,
Magoei ternos corações
E, entre eles o meu também.

Vivo enleado na incerteza,
Que é ser teu e não ser de ninguém!

O que resta é o passado,
Que me alenta e desperta,
Deste sono encalhado,
“Que é ter o barco ancorado,
E não poder navegar,
No oceano do amor,”
Que me deslumbra e me afoga...!


M.G.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

O amor vai à guerra

Ao vestir o uniforme para ir à guerra,
dizem-lhe que é uma batalha.
Para ele é uma guerra.
Está farto de batalhas.
Calças as botas.

Foi derrotado em todas as batalhas.
Coloca o quico na cabeça.
Está farto de perder batalhas.
Nunca ganhou a guerra,
nunca perdeu a guerra.
Por se ficar sempre pelas batalhas,
não avança, não regride, não cai, não voa.

Desta vez,

pega na espingarda,
e vai para a guerra.
Se perder,
não perde a batalha,
perde a guerra.

Desta vez,

não treme,
não tem medo,
não pensa,
não olha para trás.

Desta vez,

parte,
para a guerra.

Se lhe derem um tiro,
atirará o coração para a frente
e gritará “ Vim à guerra”.

Perplexa Negação

O Sol brilha e ofusca
Entre as negras e densas nuvens
Que ocultam a minha vida.

Sem querer penso que sou feliz!

Abraço o vento que me acaricia,
Respiro profundamente e, suspiro!

Procuro um foco de alegria,
E deixo que o meu Eu divague...

Sou um monge caminhante,
Um boémio diletante
Que se entrega ao prazer,
Que adora a Vida e viver!

Procuro um rumo certo,
O conforto da estabilidade;
Agora que encontrei,
Tudo me fugiu e desapareceu!
O Amor é um mar bravio,
Vem numa onda...
E logo se desfaz em reboliço,
Com a escassa água da maré.

Permaneço de pé!

Os pés enterrados no areal,
Sustenho-me entre o bem e o mal,
Que invadem o meu pensamento,
Aproveito o momento...

Agora penso no nada, e nada sou!

A felicidade é um horizonte distante,
Com que sonho a cada instante,
Que tarda
E teima em não vir.
Por vezes quero desistir,
Mas o meu espírito tenaz,
Não mo permite, e resiste.

Luto contra mim próprio,
Numa batalha que já perdi,
Que é o facto, de viver sem ti!
Só me resta chorar e lamentar,
Afundar-me na tristeza,
Que é ser teu,
E não te ter.
Mas, mesmo assim tento viver,
Construir uma vaga vida,
Equanto espero pela aprovação,
Visto que tudo em mim é um Não!

M. G.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Folha da Vida

Recebi uma folha em branco,
Nela escrevi frases soltas da minha vida,
Cresci formando prosa,
Nela depositei o quanto senti e amei.
Fui jovem, brinquei com as letras,
Que se cravaram como tatuagens,
Criancices, devaneios, viagens...
Toda a folha era eu, e ela comigo cresceu!
A certa altura não tinha mais onde escrever,
Pedi outra folha e mais outra,
E com elas nasceu um livro, que sou eu.
... Um diário, um amigo que sabia tudo,
O que vivia e que deveras sentia.
Sonhos, pensamentos, bons e maus momentos,
Palavras ditas de outros tempos em que era criança,
Assim recebi a herança que me corre nas veias,
Todos os dias.
Pensei a morte e na morte, ... noutras vidas.
Experimentei medos, vivi alegrias,
Dormi com a morte à cabeçeira,
Sempre oculta mas derradeira,
Pois, sempre existiu em mim!
E, quando me sentia assim;
Moribundo, aniquilado, triste e frustrado.
Lá estava a fiel companheira,
A folha em branco.
Sempre pronta a ser escrita,
A levar com os meus desaforos
Sem ripostar!
Depois...
Depois lia-a, chorava,
Dobrava-a e ia-me deitar...
Acordava bem disposto,
Pronto para viver mais um belo dia.
Mas, por vezes esquecia-me da caneta;
A grande amiga do acaso, logo pedia emprestado
O instrumento da arte de sentir. Quando escrevo
Sei sorrir, e tudo parece evoluir!
Agora que a folha acaba, não tenho onde escrever.
Gravo na alma escassas palavras,
Que a vida não consegue conter.
Há tanta tinta tanto por contar,
Mas vou ter de terminar, esta folha da minha vida.
Vou dobrá-la e fechar os olhos...a capa e contra capa!

- Espero por uma nova folha..., há-de chegar!