sábado, 28 de junho de 2008

Desejo

Quando os teus olhos olham para mim
todo eu sorrio por dentro, assim.
Um só sorriso por inteiro,
a esperança num amor derradeiro.

Não é só desejo, nem desdém,
é vontade de te ver rir também.
Detesto escrever em ardor,
faço-o por mim, por favor.

São palavras que bailam
e na solidão me embalam.
São ditos por dizer,
por não te poder ter.

A vida nos dirá um dia
se aquilo que eu queria
era assim tão ignóbil,
ou se era apenas difícil.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Na Baixa

Numa rua longa e estreita,
Saboreio um doce café,
E à esquina alguém espreita,
À procura da sua fé.

Sinto uma sobriedade estonteante,
Os pombos voam a pique...
E eu alheado, bem distante,
Espero por alguém que ali fique.

Esse alguém tarda e não vem,
Eu na esplanada olho em redor,
Aprecio o bom que a vida tem;
Que é ter tempo e saber o mundo de cor!

Ao peito passeio de sacola,
Dou passos curtos na vida,
E agora já de partida,
Observo o corrupio do Nicola.

Um bom café sabe sempre a pouco,
Numa bela ida a Lisboa,
Ficamos logo ansiando por outro,
Já que por enquanto, a vida é boa...!

sábado, 21 de junho de 2008

Poetas Boémios

Somos poetas da vida boémia,
a escrita é a nossa alma gémea.
Divagamos pelas ruas da arte,
fomentamos o verso em toda a parte.

A caneta como uma bandeira hasteada,
grava a rima no papel.
Somos a voz da alvorada
que nem a todos sabe a mel.

Em cada palavra um dito,
os poemas não são um mito,
existem antes de pintados,
nas nossas mentes são criados.

Travamos batalhas literárias,
caminhamos por trilhos agrestes,
nossas mentes não são precárias,
vencem provas, passam testes.

Nem todas serão vitórias,
mas mesmo as lutas inglórias
dão-nos forças a prosseguir
e tudo nos faz fluir.

O pensamento é sonho e realidade,
somos mensageiros do futuro.
Vivemos iluminados pelo obsceno,
somos mentira, somos verdade.

A nossa realidade é sermos pensantes,
e vamos prosseguindo caminhantes
de caneta em riste, incólumes
a vias adversas aos nossos costumes.

O alcool ferve nas veias,
na língua queimam-se palavras,
iluminamos sociedades de larvas,
que afoitamente caem nas teias.

Rebentam-se-nos rios de palavras,
damos à luz novas vidas.
Educamos à nossa maneira
sem medo de qualquer barreira.

No cigarro aspiramos à escrita,
que se dilui num fumo literário.
A biblioteca como uma mesquita
à eternidade dita
o que é viver do dicionário.

Vítor e Miguel
Idanha, 15 de Junho de 2008

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Momento

Num momento
a que todo pertenci,
além nada mais de mim.
Passaram as tuas mãos
debaixo dos meus olhos cabisbaixos,
pegaram nas minhas timidamente,
e eu, pensando estar a sonhar,
belisquei a minha alma.
Não acordei e deixei-me levar.
Uma dança sem domínio
onde os meus pés pisavam os teus
e o teu coração pousava sobre o meu.
Os teus murmurios e o teu olhar
deixaram-me embebido em devaneios.
O mundo à minha volta
deixou de me rodear.
O som que se ouvia
era só um palpitar.
Quando a dança acabou
o passado não regressou.
A minha vida tinha ganho
um momento para recordar.
E o teu coração
nunca mais abandonou o meu.

sábado, 14 de junho de 2008

Eternidade

Quantas vidas tenho
por engano,
pergunto-me sério.
Provavelmente
as que são dúvidas
no meio
das certezas.

Não me interessa
o que vou ser,
quero saber
o que sou.

A curiosidade
nasce quando
me tento imaginar agora.
Onde estou
não sei,
onde estarei
não me interessa.

É nestas palavras
que estou.
Com estas palavras
quero ficar.

Vêem ?
Afinal sei
quem sou
e onde
estou.

Estou nestas
letras.
Sou estas
palavras.

Aqui estarei
sempre,
Aqui serei
sempre.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Bakhar IV

Tudo termia ferozmente, areia escorria como lava e calhaus rolavam aos tropeções.
Batigo corria velozmente escapando como por milagre àquele cenário tão hostil.
Passados uns minutos o pesadelo terminou e tudo voltava à normalidade, só uma densa poeira negra denunciava a ocorrência da adversidade.
O miserável marinheiro parecia um mendigo, sujo e sebento, meio roto; sacudia-se do pó que os rasgados trajes acolhiam.
Sentou-se numa pedra para se consciencializar do que se sucedera. Sentia-se deveras abatido, pois era impossível voltar para trás...
Ali permaneceu um bom bocado olhando o vazio, todo ele era pensamentos, absorto e submerso na sua mente, divagava entre vontades e sentimentos. A impotência era dominante mas a raiva era superior.
Para agradar ao Capitão e mostrar valentia perante os camaradas aceitou o desafio e abraçou aquela missão e, agora queria apenas sair daquele buraco com vida! Queria poder contar aquela aventura um dia mais tarde aos seus netos à roda de uma fogueira banhada de luar.
Sentia-se um fraco agora, não se reconhecia como Homem. Nunca tinha saboreado aquele sentimento, sempre saíra vitorioso, sempre ultrapassou as suas dificuldades sem ajuda de ninguém e agora, encontrava-se ali só e abandonado num calhau olhando o nada e lamentando a vida.
Disse para consigo:
- Este não sou eu. Nunca senti o fracasso de uma derrota, sempre avistei o horizonte e agora temo a morte!?
Tenho mulher, tenho um filho, sobrevivi a um naufrágio aterrador e eles também por meu intermédio; fui um Herói!
Agora, o que vejo é só poeira suspensa, como que um nevoeiro ao fim da tarde; voltar atrás é impossível, mas a verdade é que sempre olhei em frente. Os combates deram-me destreza, as guerras fizeram-me Homem, as vitórias tornaram-me num Deus de carne e osso! Não posso desitir, aliás não conheço essa palavra, a derrota soa tão mal não a aceito sequer. Para perder mais vale morrer, mas aqui é impensável; não quero desiludir o Comandante e a minha família precisa de um guia, o meu filho tem que ter um Pai e os meus companheiros necessitam de Herói!

Batigo levantou-se pegou noutra tocha ateou-lhe fogo e começou novamente a desbravar terreno; o fogo era agora a sua única arma pois o pau ficara perdido – soterrado.
Continuou caminhando até ter dado de caras com uma pequena galeria que parecia não ter saída, sentiu-se desfeito, olhou em redor e não viu luz em nenhuma direcção.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Sem Abrigo

Sinto-me um vagabundo no mundo,
Perdido nas malhas do sonho,
Absorto, quieto, mudo,
Vislumbro um futuro medonho…!

Sigo as pegadas da penúria,
Caminho sempre no breu
O meu estatuto é escória,
Não sei se tenho céu.

Amo os outros demais,
A esmola é a minha vida,
Durmo num velho e podre cais,
Sempre à margem da linha…

Já amei e já me amaram,
Já fui uma pessoa com alma!
Agora em liberdade me amarram,
E, quem eu amo não me salva.

A sombra é a minha parceira,
Olho, e ela lá está – pronta a ouvir,
Vivo bem no meio da Cegueira,
O meu rosto já não sabe sorrir!

Se uma rua é liberdade,
A liberdade mora em mim,
Utopia é a felicidade,
A tristeza é um sem fim.

Espero por quem não vem,
Por esses tempos de mudança…
Esperança já ninguém tem,
Onde estará a bonança...?

terça-feira, 3 de junho de 2008

Oração

Oh Senhor, venho pecando pela recusa em mentir.
Falo verdade por leis minhas
e não por medo de cerzir
os castigos de petas confessas.
De igual modo a teus olhos peco
pois a minha razão não te declara.
Largas páginas de papeis contabilísticos,
longas folhas de riscos artísticos,
e nenhuma é a tua ara.
Como tudo contemplas, vê as lágrimas que seco
às tuas santas das notas e das moedas.
E testemunha como tens as velas apagadas
pelos imitadores mealheiros substitutos,
como se teus designios fossem prostitutos.

Oh Senhor, criação de senhores
para justificação de pecadores,
perdoa-me o trato tão familiar
a ti, filho mais peculiar
das invenções paridas do Homem.
Acredito que o Ser Humano chegou à tua beira
antes de tu próprio seres credível
e atingiu o absoluto com ajuda de peneira,
auxiliar de sua imaginativa parideira.
O divinizado humano é um facto crível
que não me deixa ser agnóstico,
e me faz postergar o católico.

Oh Senhor do Homem que te criou,
deixo esta oração para que nos rezes.
Lembra-te em todas as vezes
de quem no mundo te alimentou
e pede para não seres esquecido,
nem de faculdades enfraquecido.
"Glória ao Pai, ao Filho e ao Espirito Santo,
assim como era no principio,
Agora e sempre Amen."

11 de Abril de 2006

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Indulgência

Sei que sou um tanto desconexo,
Nem sempre sou compreendido,
Procuro um ser que me entenda,
E esse ser talvez sejas tu mesmo!

O destino cruzou nossas vidas,
Somos diferentes mas tão parecidos,
Fazes um esforço por me dissecares,
Mas é tão inglório; por vezes, nem eu me entendo!

A vitória já é nossa,
Conquistamos o amor divino,
Se nos amamos, é a vontade de Deus.
Somos um hino aos anjos!

Sei que a mágoa te atordoa,
Te melindra, te faz chorar,
Cada lágrima tua é minha,
Cada dor tua sinto também.

A mentira ás vezes parece uma cruel saída,
Mas eu estúpido minto;
Não por vontade própria, mas por conveniência,
Sei que é um desaire, uma demência!

Agora peço perdão,
Se o mereço; Sim, Não?!
Só sei que te amo e amei,
Ouve agora o coração!

- Descuculpa, mas amarte-ei...!

domingo, 1 de junho de 2008

Liberalismo

Emana de mim um liberalismo
sem desapego pela igualdade.
Com todo o romantismo,
acercou-se sem vaidade.

Não há modelo sem senão,
viver sem pai protector,
obriga à luta pelo pão
e às conquistas com fervor.

Desemperra a sociedade
num futuro infinito.
Corre-se pela felicidade
de um presente bonito.

A igualdade à partida
não permite distracções.
Não entram nesta corrida
molengas nem calões.

Fica o pai observando
se tudo vai com legalidade.
Não estorvando
quem trabalha por vontade.