quarta-feira, 11 de junho de 2008

Bakhar IV

Tudo termia ferozmente, areia escorria como lava e calhaus rolavam aos tropeções.
Batigo corria velozmente escapando como por milagre àquele cenário tão hostil.
Passados uns minutos o pesadelo terminou e tudo voltava à normalidade, só uma densa poeira negra denunciava a ocorrência da adversidade.
O miserável marinheiro parecia um mendigo, sujo e sebento, meio roto; sacudia-se do pó que os rasgados trajes acolhiam.
Sentou-se numa pedra para se consciencializar do que se sucedera. Sentia-se deveras abatido, pois era impossível voltar para trás...
Ali permaneceu um bom bocado olhando o vazio, todo ele era pensamentos, absorto e submerso na sua mente, divagava entre vontades e sentimentos. A impotência era dominante mas a raiva era superior.
Para agradar ao Capitão e mostrar valentia perante os camaradas aceitou o desafio e abraçou aquela missão e, agora queria apenas sair daquele buraco com vida! Queria poder contar aquela aventura um dia mais tarde aos seus netos à roda de uma fogueira banhada de luar.
Sentia-se um fraco agora, não se reconhecia como Homem. Nunca tinha saboreado aquele sentimento, sempre saíra vitorioso, sempre ultrapassou as suas dificuldades sem ajuda de ninguém e agora, encontrava-se ali só e abandonado num calhau olhando o nada e lamentando a vida.
Disse para consigo:
- Este não sou eu. Nunca senti o fracasso de uma derrota, sempre avistei o horizonte e agora temo a morte!?
Tenho mulher, tenho um filho, sobrevivi a um naufrágio aterrador e eles também por meu intermédio; fui um Herói!
Agora, o que vejo é só poeira suspensa, como que um nevoeiro ao fim da tarde; voltar atrás é impossível, mas a verdade é que sempre olhei em frente. Os combates deram-me destreza, as guerras fizeram-me Homem, as vitórias tornaram-me num Deus de carne e osso! Não posso desitir, aliás não conheço essa palavra, a derrota soa tão mal não a aceito sequer. Para perder mais vale morrer, mas aqui é impensável; não quero desiludir o Comandante e a minha família precisa de um guia, o meu filho tem que ter um Pai e os meus companheiros necessitam de Herói!

Batigo levantou-se pegou noutra tocha ateou-lhe fogo e começou novamente a desbravar terreno; o fogo era agora a sua única arma pois o pau ficara perdido – soterrado.
Continuou caminhando até ter dado de caras com uma pequena galeria que parecia não ter saída, sentiu-se desfeito, olhou em redor e não viu luz em nenhuma direcção.

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