quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Viagens

I

Maquinista de comboio novo
que circula em velhos carris.
Desgastado por paragens sucessivas,
paragens de esperança,
apeadeiros de espectativa.
Estações cheias de nada,
falsas realizações de vida.
Paro o comboio
sabendo que não há nada,
não há que transportar.
Mas paro,
e de cada vez que o faço
é para os meus sonhos saírem,
para apear as minhas ilusões.
Fecho as portas,
logo a seguir ao coração e parto.
E entre uma e outra paragem
iludo-me outra vez.
Torno a parar, a sofrer, a partir.
Parar, sofrer, partir,
parar, sofrer, partir,
pouca-terra, pouca-terra,
muitas ilusões, poucas realizações,
pouca-terra, pouca-terra,
parar, sofrer, partir.

II

Antes as insónias
que os sonhos.

III

Compra-se bilhete
de ida.
Destino, Felicidade.
Sem olhar a custos.
Impera a urgência.
É necessário repor a verdade,
fui enganado
quando me deram este bilhete,
era só de volta.
Volta sem Ida.
Para que quero eu
um bilhete de volta
da Felicidade
sem nunca lá ter ido?
Mesmo oferecido,
para o caralho com ele.
Não quero mais Voltar,
quero Ir.
Compra-se bilhete
de Ida
para a Felicidade.

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