sábado, 6 de dezembro de 2008

Crónica do Não Romance

Nunca consegui escrever romances. Não tenho tempo. Mesmo em todas as horas, como as de agora, não tenho tempo. Estou aqui sentado a escrever isto, há pouco estive ali a olhar para o ar sem fazer nada. E dentro deste nada fazer, não me sobra tempo para escrever romances. Falta de ideias não são, porque as tenho. Falta de meios também não. Uma caneta, um caderno ou computador sem necessidade nem de caneta nem de caderno. Talvez falta de coragem. Vidas, criar-lhes ambiente, relações, problemas, e tudo o mais que uma vida pede. Ser Deus não é fácil, talvez seja por isso que não acredito Nele. Criar tudo o que existe e que conheço, mesmo o que não conheço mas sei que existe. Como foi possivel? Com certeza Deus tinha uma grande caderno e uma caneta com tinta que nunca mais acabava, e também um revisor distraído. Criar vidas! O que eu queria era ser pai. Sinto-o agora como nunca senti antes. Ser pai. Chegar a casa e beijar a mulher e os filhos e dizer-lhes que façam os trabalhos de casa e que se precisarem de ajuda me chamem, "estou ali a escrever um romance". Mas, como pode isto acontecer se não consigo escrever um romance! Um livro, uma árvore, um filho. E eu, nem livro, nem árvore, nem filho. Que merda de homem sou? A merda de um homem que escreve poemas e contos e peças de teatro e os manda para a gaveta e nunca mais os vê. Escrevo poemas e não sou poeta. Então o que sou? O homem que chega a casa onde não estão mulher nem filhos e que escreve um poema, se até isso lhe pode ser chamado. Escreve a porra de um poema porque não consegue escrever nada que não tenha fim nesse mesmo dia. Talvez um dia escreva um romance sem fim, sobre um homem que chega a casa e beija a mulher e os filhos e lhes diga que façam os trabalhos de casa e que se precisarem de ajuda o chamem. "Estou ali a escrever um romance". Um homem como eu, com o meu nome e que se vista como eu, de corpo e alma.

1 comentário:

Sandra C. disse...

Olá Vitinho, isto de escrever romances, tem que se lhe diga. Como tudo, o problema é mesmo começar. Tal como as peças de teatro, também parecem ser tarefas dificeis, no entanto quando se começa, parece que já não conseguimos parar até que chegue o fim. Quando acabamos fica um vazio... ficamos vazios de ideias, de momentos de vidas para criar, fica um vazio na alma... e depois?
Depois temos que ir beber na fonte da imaginação, temos que nos satisfazer de novas vidas, novas ideias para que depois as façamos passar de novo para o papel, muitas vezes em papeis invertidos e ai começa tudo de novo, como um ciclo, que se repete uma e outra vez...
E porque não? Porque não tentares escrever um romance, lanço-te o desafio, escreveres parte dele, publicares aqui e nós teus leitores assiduos logo te diremos se és melhor que os romancistas de livros cor-de-rosa! De certeza que fazes mais e melhor, uma sugestão...faz algo diferente, de preferência, um em que a rapariga não case com o cavalo", lolol..
Jokitas

Sandra