domingo, 11 de maio de 2008

Bakhar

I

O nevoeiro era denso e fumegante, espesso como o sargaço. Navegava-se numa rota sem destino, as ondas iam embalando o bréu nocturno num som de bravura. A certa altura, um embate sacudiu toda a embarcação o casco cedera e a água era já abundante.
O Comandante apregoava ordens sem nexo; ora bombordo, ora estibordo. Dominados pelo pânico os marinheiros corriam esbaforidos pelo convés já encharcado, a morte estava para muitos eminente, senão mesmo, para todos.
Contra uns rochedos escarpados vindos do nada a caravela despedaçava-se como papel ensopado...
Grandes pedaços de casco flutuavam já enrolados pelas espumosas e iradas ondas e com eles, tripulantes também. Os Hidjha estavam prestes a perderem-se para sempre na fúria abissal do grandioso Pacífico.
...O Sol erguera-se finalmente e com ele a pouca tripulação que se salvára também, atordoados ainda pela terrível noite que passaram em alto mar entreolharam-se e agarraram a fina e brilhante areia como se jamais a deixassem fugir. Abraçaram-se depois infantilmente, entre risos e gritos como se quisessem dizer; estamos vivos – rir e gritar são sinónimos disso.
Agora já recompostos sacudiam-se frenéticamente tentando tirar a areia que molhada ainda esfoliava o corpo. Olharam em redor e pensaram, será uma ilha?!”Parece o paraíso...!”
Os 10 homens e as 2 mulheres que sobreviveram ao naufrágio decidiram ali mesmo que jámais voltariam a enfrentar o mar, navegar nunca mais!
Começaram por explorar o terreno, sempre pela margem para ver se sería mesmo uma ilha! Fizeram uma enorme marca no areal da praia onde naufragaram e pacientemente começaram a caminhar.
Para seu espanto repararam que alguns mantimentos tinham atracado ali mesmo, Juntaram todos ao pé de uma pequena Palmeira e prosseguiram caminho...
Depois de uma tarde inteira a caminhar notaram que tinham chegado ao ponto de partida. Era uma ilha deserta possívelmente, como não tinham avistado gente, deram-lhe o nome de Bakhar, o nome do bébé que milagrosamente também se salvára do terrível naufrágio.
Os famosos navegadores Hidjha tinham descoberto uma paridisíaca ilha deserta no Sul do Pacífico.
Anoitecera entretanto...O clarão do Sol ainda permanecia esmorecido algures no Horizonte longínquo!
O frio nocturno cobria toda a ilha com uma densa marzia, juntaram uns troncos por ali perdidos e fizeram uma fogueira para se aconchegarem. Dormiram profundamente, cansados ainda do susto e do dia que passaram.
A manhã chegou, as aves tropicais aclamavam estridentemente o nascer do dia, a fogueira jazia com um fino fio de fumo denunciante.
Acordaram a custo, o corpo doía-lhes mas, mesmo assim, os homens colectavam troncos para iniciarem algumas construções rudimentares e deliniarem assim território, enquanto que as duas mulheres preparavam os mantimentos que haviam dado à praia, e iam servindo pequenas porções de comida a todos os Hidjha.

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